terça-feira, 25 de junho de 2019

SINTRA, TRÂNSITO: "O QUE FALTOU DIZER SOBRE A SERRA ?"


A forma como a situação foi gerida - e arrastada - pela Câmara, nomeadamente Presidente e Vice-Presidente, poderia ter evitado sequelas negativas para Sintra.

Obviamente que algo continua pouco visível nos intuitos finais, sendo estes comentários um pouco mais de luz mas que não eliminam a ofuscação

É conhecida a nossa opinião e estamos convictos de que, daqui a uns tempos, porque nada pode ser escondido muito tempo, a verdade virá ao de cima.

Depois das alterações no trânsito de 26 de Março de 2018, sem tuk-tuks...

Deixamos, pois, os comentários de quem vive dentro da situação criada:

David Fernandes disse...
O que se passa em Sintra é inaceitável, roça o dictatorial. Vivendo em democracia, tendo direito de opinião, estando a ser directamente afectado por isto, venho aqui expor a situação. Apesar de trabalhar na animação turística, vou tentar ser o mais isento possível, para também poder ser correcto, e acabar com alguns dogmas que muito se dizem, mas que não correspondem à verdade.

1- Sim, conduzo tuk tuks. Ao contrário do que se pensa, não estou ilegal nem fujo às autoridades. Tenho contrato de trabalho, tenho carta de condução, estou legal em Portugal (Sou Português), faço descontos e passo recibos dos serviços efetuados. Além disso, penso que tenho sentido de responsabilidade social. Ajudo quando é necessário as autoridades como posso (Seja por motivos de trânsito, de emergências, carteiristas ou outros que tal), tento evitar prejudicar o trânsito pois sei que não sou uma viatura rápida, e faço o possível pelos moradores da vila. No fundo, tendo fazer mais parte da solução que do problema.

2- Faço o que faço por gosto. Não porque não arranjo melhor, ou porque vivo de esquemas e sou um pária da sociedade ou ainda porque tenho vícios a sustentar. Tenho prazer em dar a conhecer às pessoas a história de Sintra e do seus monumentos, mas também as histórias e estórias da vila e os seus recantos mágicos. Como eu, há outros no meio de todos.

3- Ao contrário do que se diz, um tuk tuk não polui assustadoramente nem sequer é a dois tempos. São motores a quatro tempos com certificação para trabalhar na Europa, que cumprem a Euro III e Euro IV. Ou seja, em linha com o parque automóvel privado português que tem uma média de idade de 13 anos segundo as notícias. Os tuk tuks podem ter começado no Sudeste Asiático como uma alternativa mais acessível aos táxis, no entanto e ao contrário (também) do que tantos dizem, não existe apenas em Portugal. É uma tendência mundial, uma alternativa de turismo como tantas que apareceram nos últimos 20 anos nos países desenvolvidos. Serão poucas as cidades com potencial turístico que não têm tuk tuks a operar nelas: Paris, Madrid, Roma, Londres, Berlim, Amesterdão, etc etc etc.

4- Não há tuk tuks elétricos em Sintra não é porque não se quer, é sim porque a tecnologia ainda não é totalmente viável para a serra. Tive em testes com um da empresa onde trabalho, funcionou e será a aposta para o futuro, mas para além de ser um investimento alto, não é algo que se faça em alguns dias. Irá acontecer, mas não tão depressa como se desejaria.

5- Como em qualquer lugar, também neste ramo há funcionários responsáveis e funcionários irresponsáveis. Há quem tenha começado recentemente e faça asneiras de principiante, há quem anda cá há muito tempo e saiba que faz e há quem não esteja talhado para isto. Por isso peço para não meterem tudo no mesmo saco.

6- A CMS foi conivente com o que se passa com a Animação Turística em Sintra. Em 2017 quiseram impor um regulamento sem nos consultar e quando o mesmo foi impugnado, não se esforçaram para tentar chegar a entendimento nem com a associação que na altura colocou a providência cautelar, nem com a que actualmente está a defender os nossos direitos, nem com grupos que quiseram ajudar. Eu próprio estou a aguardar à um ano por uma reunião com o vereador de turismo da CMS (Processo 10840/2018), em que nunca me dão uma previsão de data nem me deixam pedir outra pois aquela ainda está pendente. Não é da competência da CMS a criação de RNAATs para as empresas, mas a CMS que não se escuse das suas culpas neste caso. Não tem sido por falta de vontade nossa que não se tratou deste assunto.

7- O regulamento em consulta pública vai acabar com centenas de postos de trabalho. Não só os óbvios de Sintra, mas também com as economias ligadas à animação turística, quer a nível descendente como ascendente. Haverá uma quebra de serviços igualmente em empresas que vêm de fora apresentar Sintra aos turistas. Os passeios de dia inteiro para Sintra, Cascais e Estoril, os grupos que constantemente almoçam nos mais diversos restaurantes de Sintra e arredores, os veraneantes que decidem comprar artigos na vila, persuadidos pelos guias que apresentam estas lojas como vendendo as verdadeiras peças artesanais, as fábricas de queijadas menos conhecidas mas também históricas da zona, as caves de Colares onde muitos ficam a conhecer que aqui também é zona de (bom) vinho...

8- Os trabalhadores da vila passarão a ser obrigados a ir a pé para e dos seus postos de trabalho. Sim, haverá autocarros para a vila. Mas quando? A CMS teve um mini bus em testes que rapidamente desapareceu. Isto foi há quase um ano e desde aí não houve novidades, parece assunto tabu. Entretanto, paga-se o estacionamento para ir trabalhar? Deixa-se as viaturas na Portela para depois se ir fazendo o aquecimento em marcha até ao posto de trabalho, e na volta fazem-se os alongamentos?

9- A aprovação do regulamento dá carta branca à CMS para replicar os fechos e cortes a todo o concelho. Não é só à vila que isto diz respeito. Já imaginaram o Cacém ter a Avenida dos Bons Amigos fechada sem ouvir os munícipes ou a própria junta? Limitar o acesso à zona do Cruzeiro em Mem Martins para evitar congestionamentos de uma semana para a outra? Em Massamá alterarem-se sentidos de trânsito para escoar os engarrafamentos?

10- A EMES passa a ter poderes para bloquear e multar viaturas. Ou seja, uma empresa municipal pode fazer o mesmo que as autoridades competentes para tal, como a PM ou a GNR.

11- A vila de Sintra passa a estar ainda mais isolada para os residentes. A serra de Sintra fica à mercê de um monopólio, pois passa a haver apenas duas escolhas para chegar aos monumentos: a pé ou através de um único prestador de serviços. Tudo se afunila para os monumentos, se quiser visitar Tholos do Monge, Adrenunes ou outros que tais, é bom que não tenha problemas de locomoção, pois só assim...

12- O trânsito, essa grande falácia... Nós, que trabalhamos o ano todo, é que somos os grandes culpados do trânsito em Sintra. Mas só no Verão é que criamos o “complô” para atrapalhar a vida de todos, nós incluídos. No inverno deixamos fluir tudo normalmente. Pois bem, uma mentira repetida várias vezes não se torna verdade. O trânsito é criado sim, por turistas que têm demasiada facilidade em alugar uma viatura em Portugal. Turistas que seguem GPS e páram a meio de bifurcações para perceber para onde vão e recusam ajuda. GPS desactualizados e viaturas em contra mão. Viaturas de aluguer a bloquear a passagem de autocarros ou mesmo a sua paragem obrigando a ScoTTUrb a descarregar e a carregar no meio da rua em estradas de uma só via. Autocarros em dupla e tripla fila a descarregar os seus grupos na vila sem consideração pelo trânsito causado. Monstros de 13 metros que tentam subir para o Palácio da Pena, ou a rua João de Deus, ignorando a sinalização vertical. TVDE's que param a seu bel-prazer, ignorando a autoridade. Sem sinalização de advertência, sem encostar onde não faria trânsito, sem respeito por quem vai atrás. Infelizmente um triciclo chama mais a atenção que estas situações todas...

Com isto tudo revolto-me. A CMS não procura soluções nem atingir o que os munícipes querem. Limita-se a tecer ordens e editais ditatoriais onde, ou é como a CMS quer, ou não é. As alterações de trânsito foram como eles quiseram, mesmo quando podiam ter sido feitas muito melhor. Faz sentido fazer 12kms da Quinta da Regaleira ao parque da Liberdade, quando uma sinalização luminosa resolveria o problema da Barbosa do Bocage? Faz sentido vedar toda a zona histórica, quando nós que andamos aqui diariamente sabemos que os sinais não são cumpridos? Ainda hoje os erros cometidos lá continuam porque é assim que a CMS quer, e não faz como seria melhor à população. Por isso mesmo infelizmente não acredito que a CMS vá sem pressão pública alterar uma única vírgula ao projecto que apresentou, não interessa o quanto lesa as pessoas. Só interessa sim os desígnios deste edil. Como tal, peço-vos para assinar a petição que será entregue à CMS para parar este absurdo e para que falem com todos os interessados, não apenas os que lhes interessam. Assinem, validem no vosso email a assinatura, e partilhem com os vossos contactos. Não é apenas pelo meu emprego e de quem gosta do que faz, mas pelo próprio concelho e munícipes. É por uma Sintra melhor, para os munícipes e com os munícipes em vista, e nada mais. Algum esclarecimento que queiram, estou disponível para responder nos comentários de modo construtivo. Lembrem-se, há quem trabalhe aqui por gosto e o queira continuar a fazer. E quer ainda fazer parte das soluções, e não dos problemas...
25 de junho de 2019 às 00:19
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4 comentários:

m. leonor pereira disse...

bom dia caro sr. foi com mt atençao e respeito que li o seu artigo. considero que sintra precisa normas e regras de transito uma vez que esta um caos , mas cortar o transito nao e soluçao. o problema reside em grande parte no senhor presidente que so pensa em explorar enquanto esta sentado na cadeira do poder e se quer governar durante o tempo de mandato....o resto e folclore. e a boa maneira portuguesa quando se faz asneira........corta-se o mal pela raiz em vez de se analisar pros e contras. sintra esta a ser expoliada e explorada de forma selvagem. mas julgo que esta na hora de quem aqui vive e ama esta vilas e mobilizar e lutar por aquilo que fez deste sitio encantado aquilo que e. com a maior consideraçao maria leonor pereira

Fernando Castelo disse...

Estimada visitante Maria Leonor Pereira,

Em primeiro lugar a gratidão por ler este blogue e pelos comentários que teceu, muito justamente.

Creia que não sou apologista de cortar o trânsito. Devemos, isso sim, como sucede por esse mundo fora em sítios protegidos (e não só) quando os responsáveis locais são personalidades capazes e não à míngua de rendimentos e construção do seu futuro, reduzir o trânsito a um mínimo que passa quase sempre pelos residentes.

Mas, como tudo tem um início, primeiro são construídas ofertas de estacionamento, de ligações frequentes e baratas (quase gratuitas) para que as pessoas visitem os locais sem o stress de estacionarem ou estarem sempre a lhar para o relógio para meter mais umas moedas.

Foi nisso que Sintra se tornou: Num escandaloso projecto de mealheiros e que agora, com um novo Plano, ainda querem aumentar mais por essas freguesias fora.

E, creia que o projecto é de tal forma tenebroso que roça a inconstitucionalidade, transformando os fiscais em autoridade administrativa, com poderes vastos.

Tudo se tem degradado e com a actual gestão autárquica, além de terem acabado com ligações rápidas à Vila, até acabaram com ligações de munícipes que vivem na periferia e pertencem à mesma freguesia.

Com toda a consideração

Fernando Castelo

David Fernandes disse...

Boa noite Sr. Fernando.

Agradeço imensuravelmente a transcrição do texto elaborado por mim. Infelizmente em Sintra, parece que mais vivemos num reino absolutista que num concelho de um país democrático.

Um bem haja e continue o seu trabalho de tocar nas feridas que andam pelo município, pois não são rosas que por aqui habitam...

Cumprimentos,

David Fernandes.

Fernando Castelo disse...

Caro David Fernandes,

Peço desculpa de só hoje publicar a sua mensagem. Devo-lhe uma explicação: - Fora do País nem sempre uso PC mas sim o TLM. Isso limita-me na publicação de comentários. Espero me releve

Creia que, na minha opinião, é dramática a situação que se vive em Sintra, no trânsito, nos estacionamentos, praticamente em tudo.

Em minha opinião, seria sempre possível soluções que agradassem aos diferentes envolvidos, possivelmente redefinindo percursos, actividades, acessibilidades e estabelecimento de regras que fossem depois cumpridas.

O que tem sido feito acaba por ser incentivo ao não cumprimento, mais parecendo processos de perseguição (por um lado) e de construção de futuros (por outro).

Grato

Fernando Castelo