sábado, 27 de maio de 2023

TEMPOS ANTIGOS: "O HOMEM QUE ROUBOU PORTUGAL"

 


Convite à leitura

Às vezes temos a sensação de que, nestes tempos modernos, o que sabemos e não sabemos, não é nada com coisas e factos passados neste justo País. 

Preocupamo-nos com coisas triviais, de lana caprina, zeros a menos ou a mais, offshores, banqueiros sem sustento, pensões de dezenas de milhar.

Alves dos Reis se hoje fosse vivo, quantas figuras envergonharia? Com quem conviveria? Quais seriam os seus amigos? Em que carro viajaria? 

É a história que hoje recomendamos e que ajudou a enfraquecer a democracia.

Votos de boa leitura.


terça-feira, 23 de maio de 2023

SINTRA: BASÍLIO HORTA E O RESPEITO POR SINTRA

"Um povo que não tem memória dificilmente tem presente e raramente tem futuro" (Presidente da Câmara Municipal de Sintra, Basílio Adolfo Horta, em 25 de Abril de 2020) 

Com que vergonha...

Escrevo estas palavras para que a vergonha por que passo seja vacinada ao mais alto nível pelos responsáveis da vida coletiva neste histórico Concelho.


Se tenho vergonha? Que algo mais poderia ter quando, aos poucos, devegarinho, os sintrenses e portugueses têm sido empurrados para fora da Sua Vila?

As palavras simples desta lojista, tão simples que doem, são ferrões para quem desempenha funções de responsabilidade pela nosso vida coletiva.

"Deixou de haver um cliente português", desabafo de quem deixou de vender jornais porque os portugueses não aparecem, passando a ser um peso morto.

Quem não visite não sabe, quem não sabe não imagina, quem não imagina pensa viver no melhor dos mundos, iludidos pelas artes da propaganda exaustiva.

Quem não vê desconhece como está o Hotel Netto e o seu pagamento, não pergunta o que se passa com o antigo Hospital da Misericórdia, ou estrutura do Central.

Diz-se que o velho Hospital da Misericórdia mudou de donos com a Câmara a abdicar do direito de opção, tão oposto à compra do Netto e promessas...depois vendido.

O Museu do Brinquedo fechou-se às crianças pois a Câmara não podia apoiar, mas no mesmo espaço seria inaugurado outro com a fina flor da política presente. 

Nada disto será por acaso, desmobilizar tem uma ciência específica nas formas, nas pressões inventadas ou medidas de enaltecer por promessas nunca feitas.

É assim Sintra, a Sintra dos nossos corações em que as promessas de resolver os  problemas de trânsito no Centro Histórico não passaram de espalhafato.

Praça da Republica, no Coração do Centro Histórico, em 18.5.2023

Por certo haverá quem não tenha vergonha desta imagem que passa para o mundo do turismo num alheamento que a "memória" de um "povo" não apagará.   

Enquanto isto, a 100 metros uma viatura da GNR ladeava outra da chamada polícia municipal da qual os seus representantes dialogavam com pequenos vendedores.

Na Volta do Duche, junto à Rua Visconde de Monserrate, turistas desciam de uns autocarros e outros esperavam a chegada dos autocarros que os tinha trazido.

Enquanto esta situação aberrante e da maior responsabilidade decorria, a fila de carros e autocarros chegava ao Ramalhão, sem que se visse Sintra por um canudo.

Com o Ramalhão também convertido em estacionamento quase selvagem para autocarros que teriam de voltar a Sintra, envergonhava-nos o panorama degradante.  

Da vergonha às mentiras piedosas

De tanta vergonha, quantas vezes medito no que estará invisível aos sintrenses face à dificuldade de Sua Senhoria acabar com a bagunça no trânsito de Sintra.

Abalei com Amigos Bávaros, meus convidados,  a caminho dos Paços do Concelho, o Parque dos Castanheiros "estava fechado por investigações arqueológicas".

Vistos os Paços do Concelho e citado o traço artístico do arquiteto Adães Bermudes - grande republicano e respeitabilíssimo maçom - dirigimo-nos à estação da CP.

A grande concentração de pessoas junto ao portão, levou-me à "segunda mentira piedosa", explicando que, "às quintas-feiras, era habitual saudar o burgomestre". 

Que mais poderia dizer? Estou certo que Sua Senhoria, passante no local frequentes vezes, desculpar-me-á pela ousadia de admitir que, no local, fale com os presentes.

Os meus Amigos já regressaram a Munique e receio que não queiram mais visitar-me perante tudo aquilo a que assistiram e tão diferente da sociedade em que vivem.

A frase "Um povo que não tem memória dificilmente tem presente e raramente tem futuro" que Sua Senhoria em boa hora escreveu, martela-me.

Respeitosamente...



sexta-feira, 19 de maio de 2023

LEITURAS QUE AJUDAM A CONHECER CAMINHOS...

"Eu cá não me meto em questões da política"..."A política é para os políticos"..."A minha política é estar bem com todos"..."Lá está a levar a conversa para a política"..."A política faz-se de barriga cheia"

Que vida coletiva?

Frases como as acima citadas, por vezes até ouvidas de pessoas com discernimento, devem preocupar quantos um dia sonharam viver numa sociedade mais justa.

Podem ser reflexo de desmobilização coletiva ou refletir a desilusão que sentem perante os falsos projetos prometidos e apenas serviram vendilhões da política.

Para muitos, é um sintoma de alheamento face aos sacrifícios que cada vez mais lhes é exigido e que, eles e suas suas famílias, têm dificuldade em superar.
 
Por outro lado, quase 50 anos depois da data dos sonhos, o que se tem visto é o caminho inverso, dos poderosos mais ricos, dos outros cada vez mais pobres. 
 
Perante graves factos quase diários, quando o responsável máximo se silencia e opta por ir escutar uma ruidosa banda de rock, para onde nos querem levar?

Nada do que assistimos - e de que somos vítimas - é por acaso, pois se assim fosse redundaria na ignorância de quem gere, de quem usa o poder. 

A "política é para os políticos" torna-nos cúmplices da liberalização de eleitos políticos, quantas vezes vivendo anafados pelo conforto que falta a milhões.


Importância da leitura...

Nestes tempos dificeis, em que o sonho de uma sociedade mais justa se vai tornando utopia, a leitura será um bom recurso para vermos horizontes que não queremos.

Em vez de desmobilizarmos, teremos de resistir a quem sonhe com uma sociedade nivelada por baixo, das piores da Europa mas de portas abertas a novos explorados.

"Eu cá não me meto em política" é a vitória dos vendilhões, dos safados que a toda a hora estão vivendo dos nossos impostos, que nos vendem aos pedaços.

"A minha política é estar bem com todos", dolorosa visão de quantos se colocam à parte dos que passam problemas terríveis para sobreviver nestes dias.

Este quadro, em véspera de férias, merece ser repensado com os livros profundamente denunciantes do distinto escritor indiano Aravind Adiga.

Não percam no "O último homem na Torre", a ambiguidade moral do nascido miserável e se torna grande empresário, do luxo exagerado aos que nada têm.

Lerão como o "milagre económico" se liga à "corrupção", "ao contrabando", "à reurbanização" e chegarão ao estatuto da decência burguesa. 

As perseguições feitas e o final de vida do modesto professor (Yogesh Murthy) por não querer vender a casa onde vivei tanto tempo com sua família.

Disse Masterji: "Vamos refletir no que se está a passar". 

Por certo não será esse o nosso caminho. 


sexta-feira, 12 de maio de 2023

SINTRA: AINDA O "EMPOLGANTE DISCURSO DE BASÍLIO HORTA"

"Festejar hoje abril é olhar para o futuro revisitando o nosso passado (...)
Em Portugal a chamada geração de abril, que é a minha (...)
"São homens e mulheres que não sofreram os traumas do regime ditatorial (...)
"o destino dos portugueses depende da concretização de um 25 de abril para sempre e também para todos."
Basílio Horta - 25 de abril de 2023

Magnânimo Abril

No passado dia 24 de Abril, manifestámos aos leitores a curiosidade sobre que militante de Abril iria discursar em Sintra na data comemorativa.

Era justa a pergunta pois reconhecíamos entre os nossos representantes quem, nascido antes de Abril ou identificado com vida democrática, o devesse fazer.

Tínhamos em mente que, na história do Povo, o regime de antes de Abril não poderá ser omitido aos vindouros nem que o Movimento dos Capitães nos libertou.

Quando aguardávamos notícias sobre o evento, julgávamos nós que de grande exaltação por Abril depois de exemplos do regime totalitário, algo nos surpreendeu.

A manchete do Jornal de Sintra, referia um facto relevante: "Muitos jovens e crianças" estiveram presentes na comemoração de Abril nos Paços do Concelho.

Na página 9 do mesmo Jornal de Sintra de 28 de Abril de 2023 o título "EMPOLGANTE DISCURSO DE BASÍLIO HORTA" encimava o texto completo. (**)

A custo, lendo aquela passagem sobre "homens e mulheres que não sofreram os traumas do regime ditatorial" saltou-nos a memória para a União Nacional fascista.

"Revisitámos" o passado, vendo Sua Senhoria - ele mesmo - em Janeiro de 1968, sorrindo ao tomar posse na Comissão Administrativa Central da União Nacional.

18.1.1969 - Tomada de posse na Sede da União Nacional (*)

Reprodução Parcial da Sessão de tomada de posse na União Nacional  (*)

Não esquecemos que, em Abril de 1976, o ora autor de "Empolgante Discurso" votou contra a Constituição Democrática que substituiu a de 1933. 

Pese isto e o que abaixo seguirá, como se sentirá aquele quadro do PS que em Sintra escreveu ter sido Basílio Horta "fundador do regime democrático"?

Porquê Abril...

Os "muito jovens e crianças" presentes nos Paços do Concelho, esses sim "de Abril", mereciam um discurso de fervor democrático, formador da personalidade.

Porventura algum saiu de lá convicto de ter aprendido o Porquê de Abril? Quando o autor do discurso se incluiu na "chamada geração de Abril, que é a minha"?   

Neste quadro, devemos lutar contra o alheamento da história, revisitar lembrar o passado e gerações que sofreram com o regime de que o autor fez parte.

Ser membro da Comissão Administrativa da União Nacional tornava-os destacadas figuras do regime, nos antípodas dos militares que lhe puseram fim em Abril de 1974.

Revisitar o passado é falar de Rosa Casaco, Seixas, Barbieri Cardoso e tantos outros serventuários no regime de que Sua Senhoria se comprometeu servir.

Omitir-se os carrascos, limpamos a repressão do regime, autores de crimes sobre muitos lutadores pela liberdade e da destruição das suas vidas familiares.

A peça...

Pese o exagero do "Empolgante", foi um excelente trabalho e exercício a transcrição de tudo aquilo que foi dito, permitindo o acesso ao texto e suas nuances.

Na altura, foi pena não terem sido entrevistados jovens e crianças presentes para aferir se teriam imaginado Basílio Horta como um grande lutador pelo 25 de Abril.

Ao citar "homens e mulheres que não sofreram os traumas do regime ditatorial...", que pena Sua Senhoria não ter abordado o Aljube e outras prisões da PIDE. 

Não esquecer o passado...

Em 11.4.1933 entrou em vigor a Constituição do "Estado Novo" segundo os ideais de Salazar, de pendor ditatorial e autoritário, que se manteve até 1976. 

A Constituição de 1933 estabeleceu o "Partido Único", denominado "União Nacional", de ideologia frentista e fascista para apoio ao regime. 

Criou a máquina repressiva com a PVDE, depois PIDE e mais tarde DGS, a polícia política que, com poderes discricionários, prendia quem se opusesse ao regime.
 
Quantas mortes foram por essas instituições fascistas feitas? Agressões em pleno tribunal? Processos acusatórios por elas elaborados? Os Tribunais Plenários?

Um diretor da PIDE tinha foto de pose com Kramer (instalador de campos nazis), Salazar que governou até 1968 tinha no seu gabinete a foto de Mussolini.

Da União Nacional aos esbirros que a serviam seria fastidiosa a reprodução completa da sua história e de seus membros...que Abril sentenciou com a Liberdade. 

🔁



(*) - Reprodução autorizada do Arquivo da RTP - referência 836/23. 
O atraso deste artigo deve-se a termos aguardado esse autorização. 

(**)- Parte da página 9 da Edição de 28.4.2023 do Jornal de Sintra.


segunda-feira, 1 de maio de 2023

"POVO QUE LAVAS NO RIO...

...Que talhas com teu machado
As tábuas do meu caixão
Há-de haver quem te defenda
Quem compre o teu chão sagrado
Mas a tua vida não

Fui ter à mesa redonda
Beber em malga que esconda
Um beijo de mão em mão.
Era o vinho que me deste
Água pura em fruto agreste
Mas a tua vida não

Aromas de urze e de lama
Dormi com eles na cama
Tive a mesma condição
Povo, povo eu te pertenço
Deste-me alturas de incenso
Mas a tua vida não


(Pedro Homem de Melo)

Depois dos Capitães

Da última comemoração de abril é gostoso apreciar - pelas sonoras gargalhadas - como graça vinga entre as três mais altas figuras que o "POVO" elegeu.


Entre gargalhadas...

O pedacinho de vídeo para aqui transposto, não pode ser dissociado daquilo a que, graças aos riscos corridos pelos Capitães de Abril, a sociedade se transformou. 

Se bela foi a frase "esta minha fúria é fúria do tipo gelado", mais enriquecida ficou com o tonitruante "sim...sim...sim" que Marcelo Ribeiro de Sousa executou.

Os portugueses que assistiram a este "intermezzo" não podem ter deixado de se sentir felizes por saberem de tanta elevação política neste dia em celebração.

Pela nossa parte, perante poderes diferentes, não podem restar dúvidas da identidade convergente, da boa disposição coletiva, da partilha da felicidade.

Percebeu-se que as gargalhadas nao eram por termos um dos níveis de vida mais baixos da Europa, nem pelos médicos que emigram ou professores desconsiderados.

Era por qualquer coisa que teve a chancela do mais alto Magistrado da Nação, que cuidou de relatar aos seus pares que "ia observando...ia observando". 

Conclusão

Na Sessão Comemorativa, foram muito aplaudidas as palavras do Senhor Presidente da República: "Com a última palavra no Povo", isto é "no" e não "do Povo".

Assim se ratificou a carga política do poema de Pedro Homem de Melo...

...Povo que lavas no rio...quem compre o teu chão sagrado...

...Era o vinho que me deste...

...Mas a tua vida não...