"Aberto o sarcófago, a múmia ainda calçava os sapatos abotinados que alguns seguidores tinham engraxado" ( Fazel Sabbak)
A triste "vitória" dos zeladores
De Relatórios numerados (sem "print screens", para propositura de medidas processuais), à manipulação noticiosa de quem a isso se dispunha, nada fugia à forma de silenciar e amedrontar quem tinha a coragem de criticar as más políticas.
Fomos reler, pela terceira vez, o livro de Aquilino Ribeiro "Quando os Lobos Uivam", que em 1959 foi proibido e apreendido pelo regime fascista. Tem quase tanta acuidade como naquele tempo, porque as raízes não foram expurgadas.
Retirado do blogue quando os lobos uivam (clique por favor)
"Quando os lobos uivam" deveria ser de leitura obrigatória, com edições populares a suportar por Governo e Autarquias, para que jovens e idosos estejam atentos.
Fala das lutas travadas pelas populações da Serra dos Milhafres, pelos trabalhadores de Riba do Pisco que foram presos, do Manuel Louvadeus e do João do Almagre.
Era a Serra, a sua Serra a dos Milhafres que queriam fechar, muitos resistentes acabariam presos e condenados, porque o regime era dos omnipotentes...
Havia os situacionistas, como o Dr. Basílio Esperança que era Presidente da Liga Nacionalista e, por isso mesmo, pessoa que usava a influência na Comarca.
Um reputado causídico (Dr. Rigoberto) dedicava-se à defesa dos mais fracos, daqueles que lutavam pelo seu ganha-pão, pela sobrevivência das suas famílias.
Para Basílio, o Presidente da Liga Nacionalista, a simples contestação popular e o exigir de uma vida melhor, era como uma afronta ao Poder vigente na época.
Para confortar o Nacionalista havia o Lêndeas, dilecto servidor, porque são sempre precisos fiéis servidores do poder constituído e que esperam a recompensa.
"O Lêndeas não andava no mundo senão para enterrar o parceiro, mas fazia-o pela sonsa, com olhos meigos, com tal arte que às vezes os papéis invertiam-se (...)".
Alonso Ribelas declarando no Tribunal: " Lá em dizer que quem governa o mundo deve ser algum filho de má mãe, não volto atrás; que hei-de eu dizer, cada vez mais pobre, mais carregado de tributos (...)"?
Os "herdeiros"
Hoje, talvez pelo estrume espalhado aqui e ali, algumas raízes e sementes voltaram a brotar, desta feita com as indispensáveis vestes democráticas.
Graças à permissividade do regime em que vivemos, retomaram as posturas sucessórias do antigamente, inchadas pelo acolhimento recebido.
Tais peças falam em democracia, carentes de serventes que os exaltem nos títulos e obras como antigamente se fazia no "Diário da Manhã" ou na "Época".
Há herdeiros. Há acoitados ao regime dos poderosos. Há serventes sempre prontos para vender a alma na mira de um dia terem a devida recompensa.
Há os encobridores objectivos, que eleitos democraticamente se calam engolindo o sapo partidário da limitação à democracia que deve servir o público e a verdade.
Os novéis políticos não leram nos bancos da escola "Quando os Lobos Uivam", que teria sido uma porta aberta para saberem o que é Democracia Participativa.
Políticos da velha época, nesse tempo apoiantes do sistema repressivo e carros de tinta azul, depressa mudaram de agulha e ajustaram-se onde teriam abrigo.
Hoje, mais descaradamente, recuperam as virtudes do passado, com tiques de todos em pé à sua passagem ou que as portas lhes estejam abertas de par em par...
Pode dizer-se que se trata de políticos-aberração, impotentes para destruir todos os livros "Quando os Lobos Uivam" mas o fazem no silêncio dos seus actos.
É triste haver quem se adapte - omitindo à puridade o que pretende - a deferir e bajular tais políticos, talvez na ansiedade de um dia lhes chegar o desejado prémio.
Esperam pelo momento solene da recompensa, como se Abril não tivesse existido.
"Quando os Lobos Uivam", excelente sugestão para meditação e comparação.
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