terça-feira, 4 de junho de 2019

SINTRA E A LUTA NA SERRA DE "QUANDO OS LOBOS UIVAM"

"Aberto o sarcófago, a múmia ainda calçava os sapatos abotinados que alguns seguidores tinham engraxado" ( Fazel Sabbak) 


A triste "vitória" dos zeladores

De Relatórios numerados (sem "print screens", para propositura de medidas processuais), à manipulação noticiosa de quem a isso se dispunha, nada fugia à forma de silenciar e amedrontar quem tinha a coragem de criticar as más políticas.

Fomos reler, pela terceira vez, o livro de Aquilino Ribeiro  "Quando os Lobos Uivam", que em 1959  foi proibido e apreendido pelo regime fascista. Tem quase tanta acuidade como naquele tempo, porque as raízes não foram expurgadas.


"Quando os lobos uivam" deveria ser de leitura obrigatória, com edições populares a suportar por Governo e Autarquias, para que jovens e idosos estejam atentos.

Fala das lutas travadas pelas populações da Serra dos Milhafres, pelos trabalhadores de Riba do Pisco que foram presos, do Manuel Louvadeus e do João do Almagre.

Era a Serra, a sua Serra a dos Milhafres que queriam fechar, muitos resistentes acabariam presos e condenados, porque o regime era dos omnipotentes...

Havia os situacionistas, como o Dr. Basílio Esperança que era Presidente da Liga Nacionalista e, por isso mesmo, pessoa que usava a influência na Comarca. 

Um reputado causídico (Dr. Rigoberto) dedicava-se à defesa dos mais fracos, daqueles que lutavam pelo seu ganha-pão, pela sobrevivência das suas famílias. 

Para Basílio, o Presidente da Liga Nacionalista, a simples contestação popular e o exigir de uma vida melhor, era como uma afronta ao Poder vigente na época.

Para confortar o Nacionalista havia o Lêndeas, dilecto servidor, porque são sempre precisos fiéis servidores do poder constituído e que esperam a recompensa.

"O Lêndeas não andava no mundo senão para enterrar o parceiro, mas fazia-o pela sonsa, com olhos meigos, com tal arte que às vezes os papéis invertiam-se (...)".

Alonso Ribelas declarando no Tribunal: " Lá em dizer que quem governa o mundo deve ser algum filho de má mãe, não volto atrás; que hei-de eu dizer, cada vez mais pobre, mais carregado de tributos (...)"? 

Os "herdeiros"

Hoje, talvez pelo estrume espalhado aqui e ali, algumas raízes e sementes voltaram a brotar, desta feita com as indispensáveis vestes democráticas. 

Graças à permissividade do regime em que vivemos, retomaram as posturas sucessórias do antigamente, inchadas pelo acolhimento recebido.  

Tais peças falam em democracia, carentes de serventes que os exaltem nos títulos e obras como antigamente se fazia no "Diário da Manhã" ou na "Época". 

Há herdeiros. Há acoitados ao regime dos poderosos. Há serventes sempre prontos para vender a alma na mira de um dia terem a devida recompensa.

Há os encobridores objectivos, que eleitos democraticamente se calam engolindo o sapo partidário da limitação à democracia que deve servir o público e a verdade. 

Os novéis políticos não leram nos bancos da escola "Quando os Lobos Uivam", que teria sido uma porta aberta para saberem o que é Democracia Participativa.

Políticos da velha época, nesse tempo apoiantes do sistema repressivo e carros de tinta azul, depressa mudaram de agulha e ajustaram-se onde teriam abrigo.

Hoje, mais descaradamente, recuperam as virtudes do passado, com tiques de todos em pé à sua passagem ou que as portas lhes estejam abertas de par em par... 

Pode dizer-se que se trata de políticos-aberração, impotentes para destruir todos os livros "Quando os Lobos Uivam" mas o fazem no silêncio dos seus actos.

É triste haver quem se adapte - omitindo à puridade o que pretende - a deferir e bajular tais políticos, talvez na ansiedade de um dia lhes chegar o desejado prémio. 

Esperam pelo momento solene da recompensa, como se Abril não tivesse existido.

"Quando os Lobos Uivam", excelente sugestão para meditação e comparação.




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