quinta-feira, 6 de junho de 2019

SINTRA: SR. PRESIDENTE,QUE FALTOU DIZER SOBRE A SERRA?

"Que continuemos a nos omitir da política é tudo o que os malfeitores 
da vida pública mais querem"  pensamento de Bertolt Brecht

As declarações do presidente da Câmara de Sintra, enquanto de âmbito político, já justificariam a prévia passagem por um crivo para não se fazerem conjecturas.

São muitas e, sem agora nos referirmos a todas (terão o seu tempo...), uma das últimas é de tal forma indiciadora que sentimos receios por Sua Excelência.

Sendo humanistas, teremos de desejar que Sua Excelência, se necessário, se ligue às faculdades que o terão recomendado para autarca...e diga sempre tudo e bem.

Quem terá dito a Sua Excelência que na Serra circulavam veículos emissores de "fagulhas" putativamente incendiárias, com tal credibilidade que decidiu denunciá-los?


Quem iria imaginar que algum autarca falasse em "fagulhas" de viaturas a dois tempos, como (pensamento) susceptíveis de pegar fogo à Serra de Sintra?

Poderiam dar a Sua Excelência uma resma de pretextos (debandada da águia-de-bonelli, falta de segurança, escapes poluentes, falta de alvarás) mas "fagulhas"? 

As várias corporações de Bombeiros certamente não regateariam esclarecimentos. A Protecção Civil ajudaria e a Polícia Municipal corroboraria o que antes dissessem.

Pareceu-nos mesmo, ao ver outras imagens da mesma agitação, que por perto estava alguém que o poderia ter ajudado sem custo visível, evitando o despiste.

Sua Excelência enche-nos de dúvidas

Todos sabemos que Sua Excelência não é ignorante (desculpar-nos-à a louvação...) e tudo o que declara é suportado em largos conhecimentos técnicos e afins.

Não terá, porventura, conselheiros que, volta não volta, lhe colocam umas pistas falsas para terem a certeza dos conhecimentos amplos e complexos que evidencia?

Neste contexto, não admiraria que alguém tenha dito a Sua Excelência que os tuk-tuk funcionam a vapor com caldeira e respectiva fornalha alimentada a hulha...


Exemplo de fornalha para locomoção

Como seria típico - e turisticamente apelativo - 'Tuk-tuk' parados na Serra e os condutores com pás a tirar hulha do tender e alimentar a fornalha...

Daí as fagulhas que tão correctamente citou. 

Com a denúncia das fagulhas dos tuk-tuk criou dúvidas sobre termodinâmica, pois os motores a dois tempos são de combustão interna com detonação dos gases.

O imbróglio do autarca-suave

Como não podemos ser tidos como promotores ou utentes dos 'tuk-tuk', antes temos alertado para as implicações, estamos perfeitamente à vontade para apreciar.  

Neste imbróglio que criaram a Sua Excelência, será que os tuk-tuks caíram do céu esta semana ou logo que surgiram a Câmara não tomou medidas organizativas?

O sucedido seria suavemente adoçado por um Vereador que ligou uma Providência Cautelar "à desorganização total da circulação dos 'tuk-tuk" na Serra".

Ainda Sintra não sonhava com os 'tuk-tuk' e já aqui se denunciavam os perigos da concentração anárquica de viaturas na Serra sem que os responsáveis ligassem.

Como é possível que só agora, depois de andar por Sintra há alguns anos, se tenha apercebido dos perigos a que a Serra dos Sintrenses está sujeita?

É relevante que fale em Património da Unesco, mas será compatível com o Centro Histórico quase abandonado e a exigência de um silo auto na Zona Protegida?

Mais recentemente, a Parques de Sintra deu indicadores de melhorar as zonas de estacionamento na Serra e, porventura a Câmara, contestou tal "oferta"?


Agora já com espaços marcados no chão


Exemplos do empenho na protecção ambiental e eliminação de carros na Serra... 

Pelo que julgamos saber, o Vereador responsável pela Protecção Civil - e bem - alertou para os perigos na Serra, mas os passos e decisões seguintes falharam...

Ao decidir-se medidas selectivas tal deveria cobrir-se do rigor credível, com todas as vias livres apenas para transporte rodoviário na carreira concessionada (434).

Desse falhanço, que não queremos admitir estar ligado com o Projecto de Alterações no Trânsito e Estacionamento em curso, surgiu a confusão e o falhanço. 

O recurso? As fagulhas dos tuk-tuk como palavras circunstanciais num dia quente.

Terá faltado dizer - ou é suposição nossa - que a Serra pode ser "privatizada",  criando-se espaços de estacionamento devidamente seleccionados e pagos?

Seria interessante saber-se mais pormenores...além das "fagulhas". 

3 comentários:

David Fernandes disse...

O que se passa em Sintra é inaceitável, roça o dictatorial. Vivendo em democracia, tendo direito de opinião, estando a ser directamente afectado por isto, venho aqui expor a situação. Apesar de trabalhar na animação turística, vou tentar ser o mais isento possível, para também poder ser correcto, e acabar com alguns dogmas que muito se dizem, mas que não correspondem à verdade.

1- Sim, conduzo tuk tuks. Ao contrário do que se pensa, não estou ilegal nem fujo às autoridades. Tenho contrato de trabalho, tenho carta de condução, estou legal em Portugal (Sou Português), faço descontos e passo recibos dos serviços efetuados. Além disso, penso que tenho sentido de responsabilidade social. Ajudo quando é necessário as autoridades como posso (Seja por motivos de trânsito, de emergências, carteiristas ou outros que tal), tento evitar prejudicar o trânsito pois sei que não sou uma viatura rápida, e faço o possível pelos moradores da vila. No fundo, tendo fazer mais parte da solução que do problema.

2- Faço o que faço por gosto. Não porque não arranjo melhor, ou porque vivo de esquemas e sou um pária da sociedade ou ainda porque tenho vícios a sustentar. Tenho prazer em dar a conhecer às pessoas a história de Sintra e do seus monumentos, mas também as histórias e estórias da vila e os seus recantos mágicos. Como eu, há outros no meio de todos.

3- Ao contrário do que se diz, um tuk tuk não polui assustadoramente nem sequer é a dois tempos. São motores a quatro tempos com certificação para trabalhar na Europa, que cumprem a Euro III e Euro IV. Ou seja, em linha com o parque automóvel privado português que tem uma média de idade de 13 anos segundo as notícias. Os tuk tuks podem ter começado no Sudeste Asiático como uma alternativa mais acessível aos taxis, no entanto e ao contrário (também) do que tantos dizem, não existe apenas em Portugal. É uma tendência mundial, uma alternativa de turismo como tantas que apareceram nos últimos 20 anos nos países desenvolvidos. Serão poucas as cidades com potencial turístico que não têm tuk tuks a operar nelas: Paris, Madrid, Roma, Londres, Berlim, Amesterdão, etc etc etc.

4- Não há tuk tuks elétricos em Sintra não é porque não se quer, é sim porque a tecnologia ainda não é totalmente viável para a serra. Tive em testes com um da empresa onde trabalho, funcionou e será a aposta para o futuro, mas para além de ser um investimento alto, não é algo que se faça em alguns dias. Irá acontecer, mas não tão depressa como se desejaria.

David Fernandes disse...

5- Como em qualquer lugar, também neste ramo há funcionários responsáveis e funcionários irresponsáveis. Há quem tenha começado recentemente e faça asneiras de principiante, há quem anda cá há muito tempo e saiba que faz e há quem não esteja talhado para isto. Por isso peço para não meterem tudo no mesmo saco.

6- A CMS foi conivente com o que se passa com a Animação Turística em Sintra. Em 2017 quiseram impor um regulamento sem nos consultar e quando o mesmo foi impugnado, não se esforçaram para tentar chegar a entendimento nem com a associação que na altura colocou a providência cautelar, nem com a que actualmente está a defender os nossos direitos, nem com grupos que quiseram ajudar. Eu próprio estou a aguardar à um ano por uma reunião com o vereador de turismo da CMS (Processo 10840/2018), em que nunca me dão uma previsão de data nem me deixam pedir outra pois aquela ainda está pendente. Não é da competência da CMS a criação de RNAATs para as empresas, mas a CMS que não se escuse das suas culpas neste caso. Não tem sido por falta de vontade nossa que não se tratou deste assunto.

7- O regulamento em consulta pública vai acabar com centenas de postos de trabalho. Não só os óbvios de Sintra, mas também com as economias ligadas à animação turística, quer a nível descendente como ascendente. Haverá uma quebra de serviços igualmente em empresas que vêm de fora apresentar Sintra aos turistas. Os passeios de dia inteiro para Sintra, Cascais e Estoril, os grupos que constantemente almoçam nos mais diversos restaurantes de Sintra e arredores, os veraneantes que decidem comprar artigos na vila, persuadidos pelos guias que apresentam estas lojas como vendendo as verdadeiras peças artesanais, as fábricas de queijadas menos conhecidas mas também históricas da zona, as caves de Colares onde muitos ficam a conhecer que aqui também é zona de (bom) vinho...

8- Os trabalhadores da vila passarão a ser obrigados a ir a pé para e dos seus postos de trabalho. Sim, haverá autocarros para a vila. Mas quando? A CMS teve um mini bus em testes que rapidamente desapareceu. Isto foi há quase um ano e desde aí não houve novidades, parece assunto tabu. Entretanto, paga-se o estacionaento para ir trabalhar? Deixa-se as viaturas na Portela para depois se ir fazendo o aquecimento em marcha até ao posto de trabalho, e na volta fazem-se os alongamentos?

9- A aprovação do regulamento dá carta branca à CMS para replicar os fechos e cortes a todo o concelho. Não é só à vila que isto diz respeito. Já imaginaram o Cacém ter a Avenida dos Bons Amigos fechada sem ouvir os munícipes ou a própria junta? Limitar o acesso à zona do Cruzeiro em Mem Martins para evitar congestionamentos de uma semana para a outra? Em Massamá alterarem-se sentidos de trânsito para escoar os engarrafamentos?

10- A EMES passa a ter poderes para bloquear e multar viaturas. Ou seja, uma empresa municipal pode fazer o mesmo que as autoridades competentes para tal, como a PM ou a GNR.

David Fernandes disse...

11- A vila de Sintra passa a estar ainda mais isolada para os residentes. A serra de Sintra fica à mercê de um monopólio, pois passa a haver apenas duas escolhas para chegar aos monumentos: a pé ou através de um único prestador de serviços. Tudo se afunila para os monumentos, se quiser visitar Tholos do Monge, Adrenunes ou outros que tais, é bom que não tenha problemas de locomoção, pois só assim...

12- O trânsito, essa grande falácia... Nós, que trabalhamos o ano todo, é que somos os grandes culpados do trânsito em Sintra. Mas só no Verão é que criamos o “complô” para atrapalhar a vida de todos, nós incluídos. No inverno deixamos fluir tudo normalmente. Pois bem, uma mentira repetida várias vezes não se torna verdade. O trânsito é criado sim, por turistas que têm demasiada facilidade em alugar uma viatura em Portugal. Turistas que seguem GPS e páram a meio de bifurcações para perceber para onde vão e recusam ajuda. GPS desactualizados e viaturas em contra mão. Viaturas de aluguer a bloquear a passagem de autocarros ou mesmo a sua paragem obrigando a ScoTTUrb a descaregar e a carregar no meio da rua em estradas de uma só via. Autocarros em dupla e tripla fila a descarregar os seus grupos na vila sem consideração pelo trânsito causado. Monstros de 13 metros que tentam subir para o Palácio da Pena, ou a rua João de Deus, ignorando a sinalização vertical. TVDE's que param a seu bel-prazer, ignorando a autoridade. Sem sinalização de advertência, sem encostar onde não faria trânsito, sem respeito por quem vai atrás. Infelizmente um triciclo chama mais a atenção que estas situações todas...

Com isto tudo revolto-me. A CMS não procura soluções nem atingir o que os munícipes querem. Limita-se a tecer ordens e editais ditatoriais onde, ou é como a CMS quer, ou não é. As alterações de trânsito foram como eles quiseram, mesmo quando podiam ter sido feitas muito melhor. Faz sentido fazer 12kms da Quinta da Regaleira ao parque da Liberdade, quando uma sinalização luminosa resolveria o problema da Barbosa do Bocage? Faz sentido vedar toda a zona histórica, quando nós que andamos aqui diariamente sabemos que os sinais não são cumpridos? Ainda hoje os erros cometidos lá continuam porque é assim que a CMS quer, e não faz como seria melhor à população. Por isso mesmo infelizmente não acredito que a CMS vá sem pressão pública alterar uma única vírgula ao projecto que apresentou, não interessa o quanto lesa as pessoas. Só interessa sim os desígnios deste edil. Como tal, peço-vos para assinar a petição que será entregue à CMS para parar este absurdo e para que falem com todos os interessados, não apenas os que lhes interessam. Assinem, validem no vosso email a assinatura, e partilhem com os vossos contactos. Não é apenas pelo meu emprego e de quem gosta do que faz, mas pelo próprio concelho e munícipes. É por uma Sintra melhor, para os munícipes e com os munícipes em vista, e nada mais. Algum esclarecimento que queiram, estou disponível para responder nos comentários de modo construtivo. Lembrem-se, há quem trabalhe aqui por gosto e o queira continuar a fazer. E quer ainda fazer parte das soluções, e não dos problemas...