Já falarei sobre este subtítulo, mas antes umas histórias do comboio.
Havia classes nos comboios: 1ª. com compartimentos e assentos almofadados e 2ª. sem compartimentos mas almofadada, ocupadas por gente mais fina; depois a 3ª. classe, com bancos de madeira, usada pela grande maioria dos utentes, gente de trabalho. Os barcos da CP para o Barreiro tinha as mesmas classes.
No Rossio, certo dia uma locomotiva não conseguiu a pressão necessária para os freios, destruiu o batente final e só parou no meio do átrio da Estação, para espanto dos utentes e alimentando os jornais com notícias fresquinhas.
Os comboios de Sintra e Azambuja eram "tranvias", nome que nunca soube bem o que queria dizer. Os "tranvias" tinham locomotivas mais pequenas, enquanto que os "Rápidos" eram puxados por máquinas enormes com palas laterais.
Hoje – no sentido Campolide/Rossio – antes de entrar no túnel e à direita, ainda se vê (em mau estado) uma grande roda. Servia para rodar as máquinas para debaixo do telheiro e inverter a posição da locomotiva antes de ser atrelada à composição.
Entrávamos na carruagem a correr, não porque gostássemos dos assentos de madeira, mas porque o jogo da sueca nos obrigava a quatro lugares juntos.
A equipa de jogadores tinha um amigo, o Sr. Florindo, homem cinquentão, linotipista numa das tipografias do Bairro Alto, do jornal República ou do Século. Os linotipista eram doutorados a escrever português. O Florindo era um livro aberto.
Chegado ao Rossio, lá ia o Florindo pelas Escadinhas acima, com a lancheira pela mão a caminho do trabalho. Naquela época, todos trazíamos o almoço de casa numa lancheira na qual, quando havia sopa, metade ficava entornada.
VOLTANDO ÀS ESCADINHAS DO DUQUE (HOJE CALÇADA DO DUQUE)
Estátua do cauteleiro no Largo da Misericórdia
Quem hoje vê a estátua que homenageia os Cauteleiros, não imagina o papel fundamental que desempenharam na difusão dos bilhetes premiados na lotaria.
Eram eles que, assistindo aos sorteios na Santa Casa, logo corriam pelas Escadinhas abaixo levando os números da sorte - em primeira mão - às Casas de Lotaria, as quais espalhavam papéis coloridos à sua porta quando eram números seus.
Os Cauteleiros eram, na época, a forma mais rápida de comunicação...hoje temos internet e poucos avaliam os passos gigantescos que foram dados nas comunicações.
Cauteleiros, figuras populares, que nos desafiavam a sermos ricos, criavam esperanças gritando, pelas esquinas: "Quem quer a grande? Anda hoje a roda"...
Nunca me saiu nada...
3 comentários:
E a grande roda que havia em Sintra para as máquinas darem a volta? Ficou destruída pelo parque de estacionamento ou estará para lá enterrada?
Seria uma peça de Museu vivo bem atractiva.
Caro Anónimo, receio que também tenha sido soterrada, tal como aconteceu com a linha do eléctrico que só há poucos anos foi levantada junto à estação. Mas soterrar não é só de antigamente: Lembra-se do edifício dos Inválidos, no Centro Histórico, que sofreu um incêndio? Pois, tinha um poço e, com as obras que foram feitas, muito do entulho foi lá para dentro e...acabou o poço. A Fonte das Rãs, em S. Pedro, um dia foi destruída e muitas das pedras por ali ficaram, até que foram para os lados do cemitério e ninguém viu mais, nem pedras nem rãs. Muito grato pela sua visita,
Deixe lá, Tio. Se com os cauteleiros, na época, nunca lhe saiu nada, agora com o Gaspar todos os dias lhe sai qualquer coisa (do bolso). Beijo com saudades. ACastelo
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