terça-feira, 14 de junho de 2022

SINTRA: CELEBRAÇÃO DOS DEZ ANOS DO CANDEEIRO-ESPIÃO

Foi em Junho de 2012

Assim ficou, completamente desenquadrado...

Julgamos não terem sido comemorados os dez anos do "Candeeiro-Espião", na época abrilhantada com a presença de um ou dois Vereadores de serviço.

O entusiasmo era notório, viam-se figuras ímpares da defesa histórica, forças vivas e moribundas, apreciadores de música erudita e olheiros conhecidos.

Em certa altura, como magia, o simples carregar num botão disponível, debitava música suficientemente alta que fazia lembrar um qualquer arraial popular.

A cada toque no botão voltava a musiquinha, o espanto coletivo com mais bocas abertas ficou ao saber-se que, além do arraial, o botão podia chamar a autoridade.

Com tamanhas virtudes, nem a Oposição que se dizia defender "o povo" teve a coragem de querer saber mais pormenores sobre a luminária e serviços associados.

Devidamente "cintada" a zona dos botões

Tanta música brotou que, a páginas tantas, uma cinta foi colocada para impedir o uso dos botões, defendendo os tímpanos dos presentes nos Paços de Conselho.

As maiores virtudes

A bolinha virtuosa...

Lá no alto, bem alto, uma bolinha espelhada não deixava que se vissem as câmaras com que os passeantes poderiam ser devidamente apreciados.  

Se fosse hoje, até serviria para chamar tuk-tuks e avisar a saída da viatura presidencial, assim se evitando gastos com agentes que dariam jeito noutros locais.

Tudo parecia correr pelo melhor, dizia-se que a bolinha virtuosa - com um comando à distância - ajudaria a visionar concentrações de cidadãos gratos à Câmara.

A pecha

Para funcionar, o candeeiro teria de se alimentar (não de pessoas) mas de energia elétrica e não dava jeito ligá-la à Câmara Municipal, ali tão perto e curiosa. 

Foi uma Tasca ali ao lado que, prestimosa e dedicada, se disponibilizou à aceitação de um contador que permitisse a futura faturação da energia consumida.

Assim chegava a "energia" ao candeeiro

Montaram-se tubos e, dentro deles, havia cabos que levavam energia à peça e iriam permitir que as sua funções fossem devidamente ajustadas às necessidades locais.

Era assim a noite...escuridão

Como não estava ligado à Rede Pública, à noite o particular "Candeeiro-Espião" ficava apagado, numa clara traição às 5 lâmpadas, à "bolinha virtuosa" e ao som.

Tal coisa, que o candeeiro não merecia, levou a que neste blogue se publicasse, com o devido sentir, um modesto poema:  (por favor clique)

Seara, deu ilusão
A uma obra de truz:
- Candeeiro espião,
Que à noite nem dá luz.
 
 De dia é espião?
Pergunta que fez sentido,
Mas logo dizem que não,
E que foi oferecido.
 
Oferecido por quem,
Se ninguém o recebeu?
Foi lá posto por alguém.
Garanto que não fui eu.
 
Candeeiro apagado,
Sem a função musical
E alerta nos botões.
É espião desligado
Sem poder cumprir funções:
FOI TRIPLAMENTE CASTRADO!

🔄

Nunca estivemos sozinhos. Em 27 de Julho de 2012, uma Ilustre e Saudosa figura sintrense - Arquiteto Diogo Lino Pimentel - também escreveu no Jornal de Sintra: 

"No centro de Sintra, junto ao edifício dos Paços do Concelho, nasceu um monumental candeeiro de iluminação pública. Porquê tamanho desperdício tão descabido e desproporcionado? Para iluminar? Porquê se o Largo estava suficientemente iluminado? E logo o candeeiro foi nascer à beirinha do passeio, a um lado do Largo, entalado entre as hortênsias e o lancil, - aquele "monumento" que alguém terá pensado para o centro de algum outro largo ou de uma rotunda grande, como hoje há tantas!
Claro que no centro do Largo Vergílio Horta não cabia, porque já lá está um chafariz (seco!). Por isso o "monumento" terá modestamente nascido no gaveto, ainda que não tenha dispensado um porte de gente grande e importante iluminando tudo à roda, seja parede de casa,  a meia dúzia de degraus que dão a volta ao gaveto, ou (menos) os asfaltos do fim da Volta do Duche e da mini-rotunda do Largo.
Em causa não está tanto que o desenho do candeeiro seja retrógrado, como é. É mais o dano da sua presença, a sua inadequação ao sítio, a manifesta desproporção das suas dimensões, o modo como foi implantado, o exagero da sua altura, e a desnecessidade da sua existência. O candeeiro-monumento recém-nascido é um excesso, alheio a qualquer razoabilidade. Não haverá musgo que nos valha ou nevoeiro que o esconda!

Nota: Alguém me disse que se carrega num botão e o candeeiro toca musica. Não quis acreditar, e também não quis experimentar, por medo que seja verdade!

Diogo Lino Pimentel (arquiteto)"


2 comentários:

Joao Diniz disse...

Simbolo do parolismo nacional aquele indesejado candeeiro nada tem a ver com o local. Que tristeza !

Fernando Castelo disse...

Caro Amigo João Diniz,

E não contei a história toda...

Um abraço e grato pela sua visita a este blogue.