quarta-feira, 13 de maio de 2020

SINTRA, O REGRESSO DOS PIRILAMPOS


Em 21 de Março de 2011, neste modesto blogue, publicava-se algo da vida do seu autor, relembrando os tempos das ilusões da meninice, que da vida seriam depois.

Pouco tempo depois dessa publicação, os pirilampos foram desaparecendo, não só do jardim como da Fonte da Sabuga onde, à noite, também os ia encontrar.

Era grande tristeza por não encontrarmos tão pequenos - mas de grandeza ímpar - insectos, que emitem luz quando na época de acasalamento. 

Ontem à noite, talvez pela humidade e ar mais quente da noite, ou pelo ar mais puro que agora temos, voltei à alegria de os ver bailando na escuridão do meu jardim.


Recordando o escrito em 21 de Março de 2011

Neste Dia da Poesia, uma modesta contribuição comemorativa

PIRILAMPEJO

Tenho um pirilampo no jardim,
minúsculo farol em plena relva
onde se arrasta, noites sem fim,
como se estivesse numa selva.

Apressado sobe à minha mão,
centímetro e vinte de contente,
pirilampa, espalha luz no chão,
mas no alto é muito mais luzente.

Alumia-me a alma por fases,
sem electrões ou pilhas alcalinas,
enche o meu pensamento com frases
do meu pai, na solidão das campinas.

Sentava-me ao colo e a lenda
servia de engodo ao deitar,
vaga-lume num copo, era prenda
certa, com moeda ao levantar.

Chegada a noite, era seguir
o pequeno pisca-pisca banqueiro.
Já apanhado, bastava pedir,
Para de noite me fazer dinheiro.

Agora crescido, devo-lhe muito,
tenho-o a ele,  não o meu pai,
tudo mudou, é outro o intuito,
da sua cauda, moeda não cai.

Quando à noite a cauda cintila,
busca o pirilampo seu amor,
que piscando para ele desfila
perdida numa noite de calor.

Mais tarde, fundidos na luz eterna,
com curto-circuito na barriguinha,
apaga-se o sonho, a lanterna,
mas sobe no céu uma estrelinha.

Devo aos vaga-lumes gratidão
pelo que me deram, quando menino.
Como companheiros de solidão
Iluminaram sempre meu destino.

6.5.2003

(In "Em Pedaços, vos digo")

O esclarecimento que Vos devo: Naquela época, a criança irrequieta apenas tinha, à noite, as estrelas. E que lindas elas eram, quando o céu estava limpo, pois de ozono nem se falava. Cedo tinha de ir para a cama, porque a iluminaçao, por candeeiro a petróleo (de que guardo um exemplar) estava sempre dependente da poupança do combustível. Para me convencer a deitar-me, meu pai apanhava um pirilampo e convencia-me de que, se me deitasse, tão simples e pequeno insecto se dedicaria a fazer-me uma moeda. Na verdade, pela manhã, lá estava uma moeda de um ou dois tostões dentro do copo de vidro. Talvez venha daí a ingenuidade de, muitas vezes, acreditar nas mentiras que me dizem, tão diferentes desta de meu pai.

Saudações amigas,

Fernando Castelo

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