quarta-feira, 9 de março de 2016

RETALHOS DA VIDA: D. EUFRESINDA E AS FARÓFIAS...

Ainda bem. No Vocabulário Ortográfico, Eufresinda não tem definição ou significado, pelo que mais valoriza o nome, por ser único e, dessa forma, privado. 

Foi o nome que lhe dei. Um belo nome de recurso, daqueles nomes que não esquecem e somos capazes de lembrar sem o risco de escorregadela na dicção.

Eufresinda, assim a imaginei numa daquelas situações em que não conhecemos tudo o que vai dentro das pessoas. Baptizei-a para poder contar esta pequena história.

Mulher bonita, de olhar doce, nos seus quarenta e poucos, almoçava acompanhada, mantendo com ele um diálogo certamente interessante porque sorriam com gosto.

- "Que vão comer, D. Eufresinda?", pareceu-me ter dito a empregada do restaurante. "Leitão se estiver bom, da outra vez..."...disse mais qualquer coisa com um sorriso. 

À espera, falavam baixinho, palavras abafadas que dificultavam a audição da conversa que devia ser curiosa, porque sorriam e a felicidade devia estar a encher-lhes as almas.

Assim foi a conversa, talvez de desabafos, de curiosidades respondidas, numa refeição que estava longe de desencontros, de desconversas ou de problemas a resolver. 

- "Desejam sobremesa?" a pergunta que sucedeu ao retirar dos pratos. Imaginei que teria de ser um doce e, de forma audível, D. Eufresinda pediu "duas farófias".



Que bonitas farófias, de fazer crescer água na boca, tão encostadas que pareciam uma só, talvez como eles ali na mesa ao lado. Provocadoramente apetitosas.

A vida tem retalhos de inveja. Gritei: "Por favor, também uma farófia para mim". D. Eufresinda corou, talvez pensando que lhes tinha escutado a conversa. Mas não.

Saíram, não dando tempo para pedir desculpa pela minha indelicadeza, enquanto saboreava um daqueles doces que há muito tempo não apreciava.

Ontem - Dia Internacional da Mulher - devia ter agradecido à D. Eufresinda.









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