Revisito regularmente Lisboa pela memória que temos e pelos sonhos que lá ficaram.
Parto num combóio diferente do que, há quase 60 anos, funcionando a vapor, fazia o percurso quase no mesmo tempo, gratificando os passageiros com apitos, com o pouca-terra...pouca-terra, as descargas de vapor e fuligem pelas carruagens.
Nas estações, em dias certos, havia por lá umas caixas castanhas nas gares, que eram depois metidas no furgão da composição e tinham...o dinheiro da receita das bilheteiras. Um vez, na Cruz da Pedra, o combóio foi assaltado e levaram a massa...
Em Campolide, sempre que lado a lado corriam os combóios de duas linhas (Sintra e Azambuja), a rapaziada do meu tempo fazia o treino de saltar de um para o outro, sempre que os varandins das carruagens verdes ficavam pertos. Era a aventura...
Lá ia eu ao "Rossio 11", no Diário de Notícias, colocar a resposta a algum anúncio para quem quizesse trabalhar. Nessa época as cunhas eram raras.
Em 1953, a caminho do trabalho, habituei-me a todos os dias namorar as montras da Casa Chineza, logo ali à entrada da Rua do Ouro, onde os folhados - para mim inacessíveis - me provocavam.
Poucos anos depois, passei a frequentar quase diariamente, esta casa centenária, onde se podia beber, a qualquer hora, o melhor café de saco de Lisboa:
Continua a ter montras com as melhores iguarias
No chão, em calçada portuguesa, a identidade
Quando vou a Lisboa nunca falho. É o meu primeiro percurso para comer pelo menos um dos fabulosos pastéis de bacalhau que lá fazem. Não conheço melhores.
Revejo pessoas que lá trabalham há dezenas de anos, especialmente a D. Arminda que me pergunta sempre: "Quantos pastéis quer levar?".
Depois sigo outros caminhos e recordações...que fazem parte da vida.
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