Recentemente, ao visitar a histórica moagem Pataha Flour Mills, o meu pensamento resvalou para o Museu do Brinquedo, em Sintra, por razões que irei explicar.
Num esconso do sótão, três maravilhosas peças fizeram-me reviver a infância da qual, até hoje e felizmente, passadas tantas décadas, nunca me desliguei ou "esqueci".
E se o Museu do Brinquedo fosse um centro aristocrático?
É uma verdade que o Museu do Brinquedo não entrou no manual da aristocracia, pois se tal tivesse sucedido não faltariam exuberantes peças de enaltecimento, figuras ímpares na vanguarda da sua defesa, gente fina envolvida.
Ainda não há muito tempo, doutas opiniões eram proferidas por quase gladiadores a propósito da aquisição das ruínas de um hotel, gente adulta e erudita reunia-se em tertúlia tomando partido pela parte que visionavam mais conforme ao gasto.
Hoje, que o Museu está ameaçado de fechar, poucas são as vozes.
Decididamente, o Museu é das crianças e dos adultos que não se esqueceram de o ter sido, daqueles a que os soldadinhos de chumbo dão a força de estarem direitos.
No Museu do Brinquedo, ainda hoje, entram crianças agitadas e idosos saudosos, mas comummente unidos na curiosidade e no reviver da saudade.
No Museu do Brinquedo não há saraus de gente chique, não há cerimónias de beija-mão, não há aristocracia que baste para merecer palavras de resistência. É a vida!
Será assim tão difícil salvar o Museu do Brinquedo de Sintra?
Todos sabemos que se invoca legislação que inibe o apoio à Fundação que gere o Museu. Mas Estamos perante um património que já é sintrense em termos de imagem, em termos da nossa vida colectiva e de partilha cultural.
Se há reservas sobre o que quer que seja, que elas sejam identificadas, superadas, se estabeleçam projectos alternativos, formas de gerir, se tanto se tornar necessário fazer a sua aquisição, mas fechar as portas...isso nunca.
Então a Câmara que em 2009 aplicou 245.000 € num campo de futebol, ou 200.000 € em apoio financeiro a um clube, ou dezenas de milhar para árbitros de Futebol, além de Maratonas e Galas, não encontra formas para manter o Museu em Sintra?
Ainda estamos a tempo de tudo poder ser resolvido a bem do prestígio de Sintra, desde que os intervenientes puxem da sua sensibilidade para a solução adequada.
Esta imagem não pode desaparecer,
Porque o Museu do Brinquedo de Sintra apenas não diz nada aos homens e mulheres que nunca foram crianças.
10 comentários:
O museu é um exemplo dos brinquedos do comum dos mortais, e por isso não «mexe» com muita gentalha que chega a Sintra.
Caro Anónimo, muito obrigado pelo seu comentário. O Museu, tal como disse no meu texto inicial, é para crianças e dos que foram crianças. No entanto, não envolve apenas quem chega a Sintra: Há também gente que por cá se exibe, se mostra em bicos de pés em promoções serôdias, mas só se meter dons e bi-dons, porque às crianças não dizem nada. É a Sintra dos Pavões, à qual um Museu (para mim o mais completo que conheço por esse mundo fora)para ser defendido teria de ter um nome sonante. Cumprimentos,
Caro Fernando Castelo,
O fecho do Museu do brinquedo, que irá acontecer a 31 de Agosto, é uma perda enorme para Sintra e para todos que vivem as memórias das suas infâncias.
Há situações que são incontornáveis na vida das pessoas - a doença do animador e colecionador da fabulosa colecção do Museu, a nova legislação sobre as fundações, traçaram o destino deste local único e a inércia de muitos determinou este final triste.
Abraço
É escandaloso que "O MUSEU" ainda não esteja salvo. A questão da "Fundação" não pode servir de desculpa. Há ou não vontade política?
Abraço Amigo Castelo
Silvestre
Texto retirado do FB Retalhos de Sintra:
"Caro Pedro, até ao último momento ainda tenho a esperança de que possa existir uma solução. É verdade, vivemos de memórias...os que as têm...mas até ao momento aparecem poucos mais que parecer terem tido infância e hoje memória. Naquele Museu, no Museu do Brinquedo de Sintra (que com orgulho digo lá fora que é incomparável e conheço muitos) revejo toda a minha infância, que foi humilde, como aqui mostro num carrinho feito por meu pai. Talvez a humildade faça a história e as recordações, talvez por isso estas peças que se guardam naquele museu seja algo mais que matéria...são as raízes da vida. Um abraço"
Foto de Retalhos de Sintra.
Naturalmente que a revolta é grande, uma parte dos sintrenses e saloios de gema, encaram isto como um atentado e uma afronta aos adultos que foram crianças e guardam ainda na memória momentos inesquecíveis. Foi neste local que encontraram objectos iguais aos que brincaram e partilharam na infância, mas, só isto é pouco relevante para quem nasceu em berço de ouro. Miseravelmente temos que ingerir sempre as mesmas desculpas, as Câmaras e o Governo não têm dinheiro, como se não houvesse outras alternativas. Não temos dinheiro para a Saúde, Educação, Cultura, Enfermeiros, Bombeiros etc. etc. Mas num ápice aparecem milhões para dar de bandeja aos banqueiros trafulhas, desonestos e incompetentes.
Caro Castelo.
Há uma pessoa que certamente se disponibilizará - Pedro Granger
Ele é um apaixonado pelo Princezinho
Um abraço
Sinto uma imensa dor , uma tristeza sem fim. Amo brinquedos antigos demais,se me derem a escolher entre uma viagem e brinquedos antigos, não hesito.
Possuo uma colecção de brinquedos antigos meus e outros que fui adquirindo ao longo dos tempos , visitei algumas vezes o Museu do Brinquedo de Sintra, sentia - me no paraíso.
É lamentável...
Enviar um comentário