sexta-feira, 12 de maio de 2023

SINTRA: AINDA O "EMPOLGANTE DISCURSO DE BASÍLIO HORTA"

"Festejar hoje abril é olhar para o futuro revisitando o nosso passado (...)
Em Portugal a chamada geração de abril, que é a minha (...)
"São homens e mulheres que não sofreram os traumas do regime ditatorial (...)
"o destino dos portugueses depende da concretização de um 25 de abril para sempre e também para todos."
Basílio Horta - 25 de abril de 2023

Magnânimo Abril

No passado dia 24 de Abril, manifestámos aos leitores a curiosidade sobre que militante de Abril iria discursar em Sintra na data comemorativa.

Era justa a pergunta pois reconhecíamos entre os nossos representantes quem, nascido antes de Abril ou identificado com vida democrática, o devesse fazer.

Tínhamos em mente que, na história do Povo, o regime de antes de Abril não poderá ser omitido aos vindouros nem que o Movimento dos Capitães nos libertou.

Quando aguardávamos notícias sobre o evento, julgávamos nós que de grande exaltação por Abril depois de exemplos do regime totalitário, algo nos surpreendeu.

A manchete do Jornal de Sintra, referia um facto relevante: "Muitos jovens e crianças" estiveram presentes na comemoração de Abril nos Paços do Concelho.

Na página 9 do mesmo Jornal de Sintra de 28 de Abril de 2023 o título "EMPOLGANTE DISCURSO DE BASÍLIO HORTA" encimava o texto completo. (**)

A custo, lendo aquela passagem sobre "homens e mulheres que não sofreram os traumas do regime ditatorial" saltou-nos a memória para a União Nacional fascista.

"Revisitámos" o passado, vendo Sua Senhoria - ele mesmo - em Janeiro de 1968, sorrindo ao tomar posse na Comissão Administrativa Central da União Nacional.

18.1.1969 - Tomada de posse na Sede da União Nacional (*)

Reprodução Parcial da Sessão de tomada de posse na União Nacional  (*)

Não esquecemos que, em Abril de 1976, o ora autor de "Empolgante Discurso" votou contra a Constituição Democrática que substituiu a de 1933. 

Pese isto e o que abaixo seguirá, como se sentirá aquele quadro do PS que em Sintra escreveu ter sido Basílio Horta "fundador do regime democrático"?

Porquê Abril...

Os "muito jovens e crianças" presentes nos Paços do Concelho, esses sim "de Abril", mereciam um discurso de fervor democrático, formador da personalidade.

Porventura algum saiu de lá convicto de ter aprendido o Porquê de Abril? Quando o autor do discurso se incluiu na "chamada geração de Abril, que é a minha"?   

Neste quadro, devemos lutar contra o alheamento da história, revisitar lembrar o passado e gerações que sofreram com o regime de que o autor fez parte.

Ser membro da Comissão Administrativa da União Nacional tornava-os destacadas figuras do regime, nos antípodas dos militares que lhe puseram fim em Abril de 1974.

Revisitar o passado é falar de Rosa Casaco, Seixas, Barbieri Cardoso e tantos outros serventuários no regime de que Sua Senhoria se comprometeu servir.

Omitir-se os carrascos, limpamos a repressão do regime, autores de crimes sobre muitos lutadores pela liberdade e da destruição das suas vidas familiares.

A peça...

Pese o exagero do "Empolgante", foi um excelente trabalho e exercício a transcrição de tudo aquilo que foi dito, permitindo o acesso ao texto e suas nuances.

Na altura, foi pena não terem sido entrevistados jovens e crianças presentes para aferir se teriam imaginado Basílio Horta como um grande lutador pelo 25 de Abril.

Ao citar "homens e mulheres que não sofreram os traumas do regime ditatorial...", que pena Sua Senhoria não ter abordado o Aljube e outras prisões da PIDE. 

Não esquecer o passado...

Em 11.4.1933 entrou em vigor a Constituição do "Estado Novo" segundo os ideais de Salazar, de pendor ditatorial e autoritário, que se manteve até 1976. 

A Constituição de 1933 estabeleceu o "Partido Único", denominado "União Nacional", de ideologia frentista e fascista para apoio ao regime. 

Criou a máquina repressiva com a PVDE, depois PIDE e mais tarde DGS, a polícia política que, com poderes discricionários, prendia quem se opusesse ao regime.
 
Quantas mortes foram por essas instituições fascistas feitas? Agressões em pleno tribunal? Processos acusatórios por elas elaborados? Os Tribunais Plenários?

Um diretor da PIDE tinha foto de pose com Kramer (instalador de campos nazis), Salazar que governou até 1968 tinha no seu gabinete a foto de Mussolini.

Da União Nacional aos esbirros que a serviam seria fastidiosa a reprodução completa da sua história e de seus membros...que Abril sentenciou com a Liberdade. 

🔁



(*) - Reprodução autorizada do Arquivo da RTP - referência 836/23. 
O atraso deste artigo deve-se a termos aguardado esse autorização. 

(**)- Parte da página 9 da Edição de 28.4.2023 do Jornal de Sintra.


2 comentários:

Joao Diniz disse...

Impressionante a ingenuidade de um concelho e de um país que atribui funções públicas a um homem com este percurso e deste cariz. Sintra vai pagar caro as erradissimas opções deste edil e igualmente confrangedor é a inexistência da oposição a quem não faltariam motivaçoes, assim o quiséssem. Mau de mais !

Fernando Castelo disse...

Caro Visitante João Diniz,

Mais uma vez grato pela Sua visita a este blogue que procura não deixar esquecer a história de alguns indivíduos que por aí aparecem.

Na verdade, se recordarmos com Ana Gomes foi, em termos práticos, quase combatida na sua candidatura a Sintra, percebemos muita coisa mais.

Depois, imagine quem garante a maioria a um político como Sua Senhoria, à revelia da tal voz da classe operária, da defesa do proletariado e, pior, renegando os seus camaradas que o regime . servido por Basílio Horta - prendeu e assassinou.

É tão triste...