sexta-feira, 15 de junho de 2018

SINTRA: EXAGEROS NA ÂNSIA DO PROTAGONISMO

Líamos de novo, o fantástico livro "As Benevolentes", de Jonathan Littell, onde percebemos que Adolfo (o Hitler) precisava de lacaios, quando tivemos a má notícia.

"Fulano passou-se". "Já sabe o que aconteceu"? Dizia o e-mail. 

Um amigo, que teve a sua época de prestígio, que foi respeitado, tinha sido tocado por um paroxismo de vaidade que o levou a cair nos braços de quem não podia ver.

É duro sabermos disso, pela partilha - honesta da nossa parte, pelo menos - de momentos em que os nossos interesses nunca estiveram com qualquer plano.

A vida tem destas coisas, as desilusões perseguem-nos, temos de resistir. 

Os prenúncios da  doença já se tornavam visíveis aqui e ali por pequenos pormenores, embora desejássemos a sua recuperação pela positiva. 

É certo que doutas opiniõescomplementadas com difusos elogios aqui e ali faziam recear o pior, pois como nas ondas de electrões, louvar causa alguns arrepios.

Patológicamente, a ansiedade das louvações funciona como pré-avisos de disponibilidade, prontos para a subida na escada cujos degraus os chamam.  

Claro que, para vaidades a qualquer preço, as louvações são um bom recurso, pese o incómodo que às vezes os exageros possam causar nos destinatários. 

Com paciência - se estivermos atentos - poderemos aquilatar dos princípios das partes e até onde vai a aceitação tácita ou a recusa da colagem louvadora.

Temos desgosto pelo estado de saúde do nosso amigo, porque não deveria estar na sua lucidez profunda quando se dobrou por meia dúzia de lentilhas.

Doravante poderemos esperar que faça o elogio das portas abertas de par em par e de que todos se levantem para a passagem dos seus ídolos. 

Às vezes há maus jeitos difíceis de digerir.




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