quarta-feira, 11 de maio de 2016

SINTRA: EM DEFESA DA IGREJA DA MISERICÓRDIA...


Há imagens tristes. Imagens com as quais não nos conformamos. A da Igreja da Misericórdia de Sintra, com o cartaz "ERA" a que foi sobreposto "Já ERA" não corresponde a uma mera transacção imobiliária.

Incautos sintrenses ainda pensaram que a Câmara, na sua vertente aquisitiva, desta vez avançaria para a posse do imóvel para vários usos ou um Centro de Saúde.

Desiludam-se os que acreditaram. O negócio ficaria aberto a outras personalidades.

Publicamente não sabemos o destino. Nem sabemos se a Câmara prescindiu do direito de opção. Nem sabemos se terá algum Projecto devidamente apoiado pela Câmara.

Tão pouco, que exigências camarárias para preservar a História daquelas paredes.

"Já ERA" a História do nosso passado. Da Misericórdia de Sintra.

460 anos de História   

O antigo edifício da Misericórdia foi vendido. Não é público quem comprou. Há dias, alguém nos deixava a hipótese de um antigo ministro estar ligado aos compradores.

Na verdade, desconhecemos mesmo quem comprou...quem está guardando segredo...se um dia destes surgirá mais algum promocional Projecto.

Interior da Capela, imagem que nos foi gentilmente cedida

A Igreja da Misericórdia foi local de culto durante centenas de anos. Daí estranhar-se que não surjam preocupações, pelas Entidades da Fé, com a sua salvaguarda.

Em 1555, estaria construída parte significativa da Igreja, altura em que o Arcebispo de Lisboa concedeu ao Provedor da Misericórdia e Irmãos a licença para erguer um altar.

Pelo que gentilmente nos foi dito, "devido aos fracos réditos da Instituição,as obras só prosseguem a partir de 1562, tendo ficado a cargo do mestre pedreiro Baltazar Fernandes; o acerto de contas (quitação) é feito em 1569".

Trata-se de um rico Património Cultural e Religioso que exige ser defendido e preservado ao serviço da História do Local, das Comunidades e Futuras Gerações.

Devemos, então, manifestar as nossas preocupações junto da Câmara Municipal ou outras Entidades de que dependa a aprovação dos Projectos em curso.

Obviamente que deveria ser a Edilidade a primeira a ter preocupações. Mas será que as tem? A história do Hotel Netto deixa-nos preocupações sobre o que estará em curso.

Do Hospital à Confraria da Misericórdia

Em 1368 já existiam em Sintra o Hospital do Santo Espírito e a Gafaria onde se tratavam leprosos. Eram geridos pela autoridade local daquela época (hoje autarquia).

Nesse ano, no "Chão de Oliva" (Terreiro em frente ao Palácio Real) juntaram-se Juízes, Vereadores e "Homens Bons de Sintra" com um representante do Rei.

Ficou a saber-se que D. Fernando I  não aceitava que se aplicasse em "negócios do concelho" parte do dinheiro que era do Hospital e da Gafaria.

Decidiram nomear um provedor para "dar ao pão e ao dinheiro das casas de caridade o destino conveniente". Reconstruir o Hospital para "recolher os pobres que foram ricos".  

Mais tarde, 177 anos depois - em 8 de Julho de 1545 - seria fundada a Confraria da Misericórdia de Sintra, por iniciativa da Rainha D. Catarina, mulher de D. João III.

No terramoto de 1755 a Santa Casa da Misericórdia de Sintra foi arrasada e difícil a reconstrução porque os socorros a sobreviventes esgotaram os recursos financeiros.

Apoios da Bilheteira dos Palácios da Pena e da Vila

Depois da implantação da República, com a abertura ao público dos Palácios da Pena e da Vila, 25% das receitas era destinado à Santa Casa da Misericórdia de Sintra.  



Em 2000, 26 anos depois do 25 de Abril, o IPPAR suspendeu o pagamento à Misericórdia, alegando que a Lei do Congresso da República tinha caducado em 1974.

A Misericórdia ficou sem relevante apoio. Era Primeiro-Ministro António Guterres.

Em 2004 ainda se sonhava com uma Clínica Ambulatória, o que entretanto falhou.

Tem uma longa e bela História a Santa Casa da Misericórdia de Sintra, agora virada para a componente Social, com muitas dificuldades que vão sendo superadas.

Preservar - no mínimo - a Igreja que foi da Misericórdia, ainda é uma forma de honrar a Santa Casa, manter o seu nome, continuar com ela na História de Sintra.

A longa História da Igreja da Misericórdia e da Santa Casa não se ajustam ao "Já ERA" que na porta se ostenta. 

É a nossa História que tem de ser salvaguardada.

Os sintrenses devem exigir que o Património e a Igreja sejam salvaguardados.

É um direito que assiste a Todos nós.


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