A maior parte dos portugueses, os que vivem ou viveram do seu trabalho, os que produzem ou produziram a riqueza deste país, encontram-se perante um futuro desconhecido, incapazes de salvaguardar a própria vida.
A hora é para vencer os medos. Deixarmo-nos de temores. Os monstros existem e, em cada dia, mais se sentem as ameaças, cada dia com mais desplante.
"O Mostrengo" está nas mãos do poder; o poema abre-nos horizontes que cada vez estão mais longínquos mas existem, que alcançaremos com a coragem de vencer os ventos contrários que nos querem levar à tragédia.
Deixo-vos com o poema e o convite à meditação:
O MOSTRENGO
O mostrengo que está no fim do mar
Na noite de breu
ergueu-se a voar;
À roda da nau voou três vezes,
Voou três vezes a
chiar,
E disse: «Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não
desvendo,
Meus tectos negros do fim do mundo?»
E o homem do leme disse,
tremendo:
«El-Rei D. João Segundo!»
«De quem são as velas onde me
roço?
De quem as quilhas que vejo e ouço?»
Disse o mostrengo, e rodou três
vezes,
Três vezes rodou imundo e grosso.
«Quem vem poder o que só eu
posso,
Que moro onde nunca ninguém me visse
E escorro os medos do mar sem
fundo?»
E o homem do leme tremeu, e disse:
«El-Rei D. João
Segundo!»
Três vezes do leme as mãos ergueu,
Três vezes ao leme as
reprendeu,
E disse no fim de tremer três vezes:
«Aqui ao leme sou mais
do que eu:
Sou um povo que quer o mar que é teu;
E mais que o mostrengo,
que me a alma teme
E roda nas trevas do fim do mundo,
Manda a vontade,
que me ata ao leme,
De El-Rei D. João Segundo!»
Nota: Esta publicação é também um momento de recordações. Um antigo colega - soube há pouco tempo que faleceu - era um excelente declamador deste poema. Tantas vezes lhe era feito esse pedido.
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