"Como uma simples medalha muda pessoas", algures numa gruta da Serra de SintraO Padre Albertino era um homem jovial e, acabada a batalha futebolística, dizia-nos com o ar mais grave do mundo: "medalhai-vos uns aos outros".
A frase iludia-nos depois de uma jogatina no velho campo do colégio. Um de nós ficava mais vermelho, o Frederico, já na época grandalhão e campeão da sarrafada.
Viria a encontrar o Frederico muitos anos depois, na mesma actividade profissional que eu, corpo grande e pesado, mas amável como nunca tinha sido na juventude.
Perguntarão, por certo, das razões do Padre Albertino, para aquela frase.
Entendia o Padre Albertino que depois de tantos pontapés, caneladas e empurrões uns nos outros, o mérito era de todos, pelas canelas que tinham ficado esfoladas.
Seguia-se a medalhagem nas camisolas, com caricas fixadas pelo interior. Na época não se usavam fitas para pendurar medalhas nem havia ares majestáticos.
Tirava-se a cortiça da tampa e, por dentro da camisola (naquele tempo não se falava em T-Shirt) era de novo encaixada na parte metálica da carica. Estava medalhado!
Seguia-se a risada colectiva, pela bulgaridade implícita.
Não sei como antigos companheiros, alguns altas figuras e até banqueiros, apreciam hoje a frequente imposição de medalhas que nem sempre premeiam bons serviços.
Medalhar tem o seu peso...
Naquele tempo, as "Condecorações Públicas", distinguiam sacrifícios de elevado valor humanitário, social ou comunitário, de que só pessoas excepcionais eram capazes.
Em grande parte das vezes, eram a título póstumo, recebidas por familiares.
Medalhar é, pois, algo de excepcional, por feitos inequívocos em prol da sociedade e do bem estar colectivo. Uma só medalha, justa, tem um peso que exige muito respeito.
Há pouco tempo, em acto público, no peitilho de um dos presentes - em 30 por 30 centímetros de espaço - pesavam umas 20 medalhas, quase vergando o expositor.
Esse um problema das medalhas: O seu peso às vezes é fictício, com efeitos perversos na estrutura, podendo levar à deformação curvilínea da coluna vertebral.
Bem longe das medalhinhas de cortiça do meu tempo...tão leves e inócuas.
Medalhar a todo o vapor (*)
Medalhar é o tiro sazonal, como de abertura da caça. Há quem as disfarce e embrulhe em ciclos eleitorais. Tivemos disso no passado esperando-se sem repetição.
A medalhagem tornou-se na panela de pressão que apitava. Numa Gala do Desporto chegou a medalhar-se um futebolista que pouco jogava, mas viria a ser candidato.
Depois há o atribuir de medalhas a corporações, membros de corporações, dirigentes de clubes, associações, sócios das mesmas, tudo o que tenha muitos membros.
Não há medalhas para creches ou infantários onde pais e mães se afastam dos seus filhos para irem trabalhar. Crianças não votam e não apreciam medalhas...
Medalha-se a torto e a direito, até por anos de assiduidade...ao serviço de entidades externas, enquanto trabalhadores próprios não são medalháveis...
A politica e a medalhagem ajustam-se para que o tiro atinja muitos alvos.
Elevam-se os egos pela medalhas, mas as medalhas não tapam o que está por fazer.
Neste quadro, podem chover medalhas para as famílias numerosas, para restaurantes onde se abracem políticos, para ciclistas de Domingo, para clubes...
Só é preciso imaginação e dinheiro para a cunhagem de medalhas rentáveis.
Claro está que nada disto faz parte de campanhas eleitorais em curso.
Triste é pensarmos que uma simples medalha consegue mudar pessoas.
(*) Há uns tempos, um medalhado com Prata dizia: "Para que quero uma Medalha de Prata? Ainda se fosse de Ouro...agora de Prata"... compreende-se...
Tirava-se a cortiça da tampa e, por dentro da camisola (naquele tempo não se falava em T-Shirt) era de novo encaixada na parte metálica da carica. Estava medalhado!
Seguia-se a risada colectiva, pela bulgaridade implícita.
Não sei como antigos companheiros, alguns altas figuras e até banqueiros, apreciam hoje a frequente imposição de medalhas que nem sempre premeiam bons serviços.
Medalhar tem o seu peso...
Naquele tempo, as "Condecorações Públicas", distinguiam sacrifícios de elevado valor humanitário, social ou comunitário, de que só pessoas excepcionais eram capazes.
Em grande parte das vezes, eram a título póstumo, recebidas por familiares.
Medalhar é, pois, algo de excepcional, por feitos inequívocos em prol da sociedade e do bem estar colectivo. Uma só medalha, justa, tem um peso que exige muito respeito.
Há pouco tempo, em acto público, no peitilho de um dos presentes - em 30 por 30 centímetros de espaço - pesavam umas 20 medalhas, quase vergando o expositor.
Esse um problema das medalhas: O seu peso às vezes é fictício, com efeitos perversos na estrutura, podendo levar à deformação curvilínea da coluna vertebral.
Bem longe das medalhinhas de cortiça do meu tempo...tão leves e inócuas.
Medalhar a todo o vapor (*)
Medalhar é o tiro sazonal, como de abertura da caça. Há quem as disfarce e embrulhe em ciclos eleitorais. Tivemos disso no passado esperando-se sem repetição.
A medalhagem tornou-se na panela de pressão que apitava. Numa Gala do Desporto chegou a medalhar-se um futebolista que pouco jogava, mas viria a ser candidato.
Depois há o atribuir de medalhas a corporações, membros de corporações, dirigentes de clubes, associações, sócios das mesmas, tudo o que tenha muitos membros.
Não há medalhas para creches ou infantários onde pais e mães se afastam dos seus filhos para irem trabalhar. Crianças não votam e não apreciam medalhas...
Medalha-se a torto e a direito, até por anos de assiduidade...ao serviço de entidades externas, enquanto trabalhadores próprios não são medalháveis...
A politica e a medalhagem ajustam-se para que o tiro atinja muitos alvos.
Elevam-se os egos pela medalhas, mas as medalhas não tapam o que está por fazer.
Só é preciso imaginação e dinheiro para a cunhagem de medalhas rentáveis.
Claro está que nada disto faz parte de campanhas eleitorais em curso.
Triste é pensarmos que uma simples medalha consegue mudar pessoas.
(*) Há uns tempos, um medalhado com Prata dizia: "Para que quero uma Medalha de Prata? Ainda se fosse de Ouro...agora de Prata"... compreende-se...
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