quarta-feira, 5 de março de 2014

QUANDO MENOS SE ESPERA, REVIVE-SE O PASSADO...

Há dias, uma antiga colega, não ela antiga mas colega, colocou no seu espaço do Facebook uma frase de Pablo Neruda: "Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem não encontra graça em si mesmo".

É um ensinamento de vida que, para ser abordado, me leva - em primeiro lugar - ao segundo mandamento, pois a quase única alternativa que dou aos meus é oferecerem livros, listando um conjunto de títulos cuja surpresa está na escolha.

Da última vez, mas a primeira pela certa, um livro teve a condão de - chegado apenas à página 22 - me obrigar a revisitar o passado, enleando-me em múltiplas recordações.

Falo de um dos últimos livros de Domingos Amaral.

De chofre, uma frase para mim quase mágica: "Por vezes, antes de nos aparecer em pessoa, é nas palavras dos outros que alguém regressa à nossa vida".

Do nascimento à vida

Ditou a sorte que, nascido uns dias antes do início da II Grande Guerra, tivesse sobrevivido quase por selecção natural, pois muitos putos dessa época não o conseguiram. Havia poucos médicos, falta de medicamentos e má alimentação.

Apesar disso, ao tempo em que um jovem chegava a homem sem ser criança, cedo surgiram sonhos, entre eles o de viajar, tão expressamente manifestado à minha mãe, quando aos 14 anos respondi ao anúncio que pedia "rapaz para paquete".

Viajar é um estado de alma. A primeira viagem é de cautelas. Depois mais longe, a curiosidade por outras paragens, os desafios por culturas diferentes, as pessoas. As pessoas. Como vivem e se movem, como se alimentam, vectores culturais.

Recordo férias e o mês de Julho. Quando ao dia 1 partia sozinho no meu carro a caminho da Europa, falando - só - com os botões e entregue aos pensamentos.



As margens do Rio Isar ligam-se ao que restou de Hiroshima na trágica manhã de 8 de Agosto de 1945.



Falhei ao não ter conseguido agradecer a muitos colegas pelo que eles influenciaram as minhas viagens. Com os livros que me ofereceram, incentivaram-me a querer conhecer os mais diversos locais à volta deste planeta onde vivemos. 

Hoje, acarinho o livro "Art Treasures in Russia" que me ofereceram em 1972. Abraço fortemente três volumes da "Grande Crónica da Segunda Guerra Mundial", com que esses colegas me brindaram em 1973 e me fizeram viajar de Munique a Hiroshima.


1972 - inigualável incentivo cultural

1973 - o simbolismo de abraçar o mundo. Hiroshima é no Volume III

Viajando, tenho assistido a excelentes espectáculos musicais e artísticos nas diversas partes do mundo, mas de todos o expoente máximo foi um inolvidável "Lago dos Cisnes", no Teatro Bolshoi de Moscovo, no longínquo ano de 1972.

O quarto, será talvez o mais difícil mandamento de Pablo Neruda, pois no desgraçado tempo que vivemos só posso rir de mim próprio, porque não fui capaz de melhor.

Rebobinar para tornar a ver

A boa colega que lembrou Neruda mais as primeiras páginas do livro de Domingos Amaral, impulsionaram a reprise de uma vida com momentos felizes e dolorosos, sonhos e desilusões, alegrias e tristezas, mas onde todos os retalhos se colam.  

Tal como a figura central do livro, durante horas estive na "Luzboa" que calcorreei na juventude, revivi a marginal de "Cascais" e terminei o dia na "bela Sintra", deitado em  recantos cujos encantos a vida ainda não me impediu de desfrutar.

Pablo Neruda tinha razão...não nos deixemos morrer lentamente.


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