Nos meus percursos solitários por Lisboa, sou tantas vezes surpreendido por encantos que me deslumbram, fazendo desejos de que - muitas vezes - tudo seja recuperado para bem da riqueza patrimonial lisboeta e da nossa história.
Porque há dias aqui lembrei a Fonte do Poeta que existe no Largo da Judiaria, não poderia esquecer as belas e antigas janelas que na sua frente se nos mostram.
Caminhando mas um pouco, na Direcção do Chafariz de Dentro, por uma rua estreitinha chegamos ao Largo das Alcaçarias, onde um calmo gatito nos olha enquanto apreciamos dois painéis de azulejos antigos e fortemente agredidos.
Hoje, recordarei a história que eu próprio observei.
Neste Largo das Alcaçarias, na esquina onde se entra pela Travessa do Terreiro do Trigo (voltaremos a falar do Terreiro do Trigo), existia uma fonte.
Era conhecida por Fonte das Ratas.
Por volta de 1959, constou que a água de tal fonte (certamente a mesma dos banhos) era milagrosa e, espalhada a boa nova através dos Diário de Notícias, Século , Diário Popular e Diário de Lisboa, a população a ela acorreu para encher garrafões.
Era um pandemónio. A polícia tinha de manter a ordem, milhares de pessoas de Lisboa e arredores, com vários garrafões, esperavam horas a fio para conseguir levar para casa o precioso líquido, poupando até na compra de outras águas ou bilhas.
Nessa altura, já os grandes empresários tinham o poder de influenciar e dar ordens ao governo, pelo que uma grande marca vendedora de águas reclamou invocando a qualidade da que brotava da fonte...claro porque estava a perder clientes.
Solícitos, governantes de então ou a câmara municipal (tudo da mesma gente) proibiram a recolha de agua no local com fundamentos de "defesa" da saúde pública. Como mesmo assim continuasse a recolha, um dia a fonte foi destruída e soterrada.
A Fonte das Ratas acabou, arrasada, para que os pobres não a utilizassem.
Pelo que julgo saber, como ao lado havia a zona de banhos, a edificação ainda hoje existe.
Aproveitando andar por lá, bastando atravessar a Rua, podemos deliciar-nos com a frontaria do Edifício das Alfândegas, encimado por uma gravação histórica, que reflecte a época em que o nosso país era governado por patriotas preocupados com o seu povo:
"JOSÉPH: I, AUGUSTO INVICTO PIO
REY E PAY CLEMENTISSIMO
DOS SEUS VASSALLOS
PARA SEGURAR A ABUNDANCIA DE PAÓ
AOS MORADORES DA SUA NOBRE E LEAL CIDADE DE LISBOA
AOS MORADORES DA SUA NOBRE E LEAL CIDADE DE LISBOA
E DESTERRAR DELA A IMPIEDADE DOS MONOPOLIOS
DEBAIXO DA INSPECÇAÓ DO SENADO DA CAMARA
SENDO PRESIDENTE DELLE PAULO DE CARVALHO DE MENDONÇA
MANDOU EDIFICAR DESDE OS FUNDAMENTOS ESTE CELLEIRO PÚBLICO
ANNO M DCCLXVI"
Esta a nossa história de hoje...feita ontem...para amanhã.
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