quinta-feira, 9 de outubro de 2014

SINTRA: PALÁCIOS E PARQUES "LONGE" DOS PORTUGUESES

Periodicamente, surgem entusiásticas divulgações privilegiadas, que tudo indica promovidas, envolvendo obras, trabalhos ou projectos levados a cabo em Monumentos Nacionais localizados em Sintra mas não geridos pela Edilidade.

Não se notam, nas mesmas fontes, preocupações - de veiculadores ou promotores - por tais investimentos não redundarem em usufruto Cultural dos portugueses, já que são mais disponibilizados aos cerca de 93% de visitantes estrangeiros.


Os Lagos da Pena ainda podem ser vistos gratuitamente pelos Portugueses...mas por fora das grades 

Enquanto a rede não for tapado com painéis, o Jardim da Pena pode ser visto gratuitamente

Acresce que as difíceis condições de vida das camadas mais débeis e os elevados preços praticados, transformaram Palácios Nacionais e Parques de Sintra - que são de TODOS NÓS - em miragens para os portugueses.

É neste quadro que deve apreciar-se a decisão tomada em 2012 (acabar com o direito dos portugueses entrarem gratuitamente aos Domingos) por uma empresa de capitais exclusivamente públicos. O que decidiria se fosse privada!

Obviamente que, ao melhor estilo elitista e de classe, há quem exulte pelo facto dos "residentes em Sintra" continuarem com esse direito de entrada gratuita, como se tivessem direitos sobrepostos sobre os outros seus compatriotas...

Inequivocamente, os portugueses foram ostensivamente excluídos do direito de aceder - gratuitamente aos Domingos - a Palácios Nacionais e seus Parques em Sintra, pelo que não compartilharão de entusiasmos militantes por tão mau exemplo.

Em boa verdade, talvez se justificasse uma suave meditação antes da ostensiva difusão do direito (desigual) dos "residentes em Sintra", pouco abonatória dos actores, a menos que existam mais-valias pouco visíveis à mais clara luz do dia.


O Palácio de Queluz, ainda disponível para ser visto do exterior. Até quando?

Como reagiriam os desiguais portugueses "residentes em Sintra" se, visitando o Castelo de Guimarães, berço da nacionalidade, vissem os Vimaranenses entrar gratuitamente e eles tivessem de desembolsar uma cédula de vários euros?


Da Estrada (sem se pagar Portagem) pode tirar-se uma bela foto do Castelo dos Mouros

Até que ponto a Direcção-Geral do Património Cultural (para restringir a um Domingo por mês as entradas gratuitas e aumentar preços) precisou do exemplo "sintrense" de eliminar direitos e aumentar o custo dos acessos para níveis incomportáveis?

Fala-se no desejo da Câmara Municipal de Sintra ter, na Empresa que gere os Parques e Palácios, uma participação compatível com as suas responsabilidades na gestão do território. Fica a esperança de poder corrigir as anormalidades.

Como seria bom que o (mau) "exemplo sintrense" de retirar direitos aos portugueses não se tornasse numa virose contaminante para outros Palácios, Castelos e Museus.

Em nome do direito de acesso à Cultura.



4 comentários:

Caminhando por Sintra disse...

De facto, o caso de Sintra não é único. Aqui tão perto, no Castelo de São Jorge, residentes no concelho de Lisboa têm direito a acesso gratuito ao monumento todos os dias, enquanto que por exemplo, um cidadão de Sintra que lá se dirija, terá de pagar (qualquer que seja o dia da semana) 8,50 euros. Esta é a politica da EGEAC, empresa municipal responsável. É certo de que deveria existir igualdade no acesso dos cidadãos à cultura. No entanto, a política actualmente aplicada pela DGPC nos monumentos e museus a seu cargo também não me parece a mais correcta, "oferecendo" apenas 12 dias de entrada gratuita por ano.

Acredito que as intervenções que visam a melhoria do nosso património, acompanhadas de rigor histórico devem ser divulgadas a todos aqueles que se interessam por estes locais.

Cumprimentos Sr. Castelo

Miguel

Fernando Castelo disse...

Caro Miguel, muito obrigado pelas suas palavras.
Imaginará que eu já esperava a indicação do Castelo de S. Jorge a propósito do meu artigo. No entanto, não é essa a regra e, embora criticando a DGPC pelas restrições feitas (gostava até de poder avaliar até que ponto o mau exemplo da Parques de Sintra - Monte da Lua foi pioneiro ou pretexto para a redução dos direitos) na verdade é que tem um conjunto de direitos dos visitantes (famílias, desempregados, crianças, famílias, etc. que a PS-ML "triturou". Aliás, a decisão de apenas dar direito a locais (nem é preciso ser munícipe ou eleitor) é oponível à Constituição e aos Direitos de Igualdade dos Cidadãos Europeus. Acho muito bem que se divulguem as recuperações feitas, embora não seja adepto de alguns casos em que a fulanização é ostensiva e não muito compreendida. No entanto, se me permite, como poderemos ser felizes - enquanto participantes vivos desta sociedade - se soubermos, pela divulgação, dos belos rigores da recuperação histórico do património, se depois ele está fechado até pagarmos uma elevada quantia para a entrada? O que se passa nos preços e limitações criadas pela PS-ML é de um exagero pouco aceitável, tanto mais que a eliminação dos portugueses não sintrenses não envolveu um significativo número de visitas gratuitas. Foi mais um acto gratuito, na minha opinião para "mostrar" trabalho e dinâmica, que ficará na história dos Parques...que um dia voltarão a ser dos sintrenses e de todos os portugueses. Um abraço,

António disse...

O Sr. Castelo tem toda a razão quando alerta para esta anómala situação, no entanto os nossos governantes e alguma imprensa têm o hábito de nos dizerem que nos outros países da Europa também se faz assim e porque os outros fazem assim nós também devemos fazer. Mas nunca têm a honestidade de dizer ou comparar os vencimentos e reformas desses países com o nosso panorama actual. A classe média em Portugal foi aniquilada, a cultura está a desaparecer, a educação está de rastos e a saúde não é igual aos outros países, tudo isto acrescido da introdução do €uro, que veio dar a ilusão que todos iam deixar de ser pobres neste País. Se querem que se pague mais para compensar as obras, teriam de ser punidos todos aqueles que deixaram os parques e monumentos chegar ao estado lastimoso em que se encontravam. Mesmo sendo aqui alertados os Sintrenses em especial, nota-se que são poucos aqueles que se importam com esta modalidade, acomodam-se humildemente à pata do elefante, enquanto outros vão remando contra a maré. Também não passa despercebido, que esta situação agrada a uma determinada "pomposa elite" borlista dita Sintrense.

Fernando Castelo disse...

Caro António, grato pela sua visita. Eu não seria capaz de manifestar melhor. Um abraço e vá aparecendo, porque estamos vivos.