À encarecida atenção de Sua Excelência
Derrocada da História
Hoje, 9 de Abril de 2022, passam 23 anos sobre o toque de um carro no belo painel e peça de arte única da frontaria do Palácio de Valenças a que seguiu a derrocada.
Só o Brasão de Sintra ficou totalmente recuperável depois da derrocada
Falou-se na época que o bater de uma viatura na cercadura inferior tinha dado causa a um primeiro desabamento que justificaria a remoção completa do painel.
Dizia-se na época - custando a acreditar - que algumas personagens não gostavam muito do painel ali colocado em 1959 e da autoria de qualificado artista sintrenses.
Mestre Carlos Vizeu, Autor com atelier em Casas Novas, Colares, era Homem-artista prestigiado, com H grande, humilde nas amizades e não servo do poder.
A derrocada do painel foi o corolário de maus tratos sucessivos, até pregos lhe foram colocados para que trepadeiras por ele subissem...
Dos azulejos depois retirados, o Brasão de Sintra ficou intacto, sabendo que cerca de 200 foram destruídos ou desaparecidos, dificultando a recuperação.
Certamente com parecer favorável de técnicos municipais - outra coisa não se esperaria - as peças intactas foram removidas deixando de pesar na frontaria.
O Autor, mantido no desconhecimento do ocorrido e que deveria ser ouvido sobre a remoção da parte intacta, viria a saber da destruição por amigos.
História do painel
O painel era uma extraordinária peça artística, obra que pelas dimensões e pormenores técnicos, além de muito apreciado, honrava Sintra e Mestre Carlos Vizeu.
Para o fazer, foi importado um forno a gás (o primeiro em Portugal) que, aquando da cozedura, tornava os tons mais vivos, aumentando-lhes beleza na cor.
Por outro lado, as peças eram de outro formato, estilo tijolo burro, que tinham exigido um esforço redobrado ao Artista em todas as fases da sua elaboração.
Como o forno a gás tinha custos de cozedura muito elevados e difíceis de suportar, o Mestre Carlos Vizeu tomou a decisão de o devolver depois de concluir o painel..
Em tese, cada uma das peças do antigo painel tornou-se única, constituindo um destacado património sintrenses merecedor da maior sensibilidade e respeito.
Os azulejos desmontados foram depois encaixotados e levados para o atelier de Mestre Carlos Vizeu, que se viu impossibilitado da recuperação completa.
O novo painel
Os meses iam passando...mas muitos sintrenses não se esqueciam do painel do Valenças e exigiam a sua recuperação ou, na impossibilidade, a sua substituição.
Com muitas pressões, seis meses depois, em Outubro de 2001 (havia eleições em 16 de Dezembro desse ano) foi encomendado "novo" painel ao Mestre Carlos Vizeu.
Tivemos a felicidade de acompanhar, com o Mestre, a feitura do novo painel
Em 2003, 1482 dias depois da derrocada, voltou o "novo painel" com azulejos de outro formato, merecendo a apreciação de milhares de sintrenses e turistas.
Quem se recorde ou agora queira comparar, notará significativas diferenças nos azulejos, nas cores e, nalguns casos, pequenos e irrelevantes pormenores.
Ao novo painel, colocado em 2003, falta muita da beleza do anterior
Desventuras do antigo painel
Feito o novo painel, os antigos azulejos, intactos, iam ficando armazenados no atelier do Mestre, o qual insistia para que fossem retirados pelos Serviços Camarários.
Muito tempo depois, sem que os azulejos salvados fossem retirados, acabámos por solicitar a intervenção do Chefe de Gabinete do então Presidente da Câmara.
Então, por iniciativa camarária, todos os antigos azulejos que estavam aproveitáveis foram removidos para um local que só os serviços camarários saberão.
Preocupados com a conservação dos mesmos, insistimos e viemos a ser informados de que estavam bem guardados e conservados.
Nada se voltando a saber - até hoje - sobre o Brasão encaixotado, formulamos um pedido encarecido de que Sua Excelência se empenhe em saber dele.
Sugestões para localização
Dizia o Mestre que a parte do Brasão de Sintra tinha ficado incólume e numerada, justificando a sua recuperação parcial e recolocação noutro local.
Tal como se vê em muitos municípios e, no estrangeiro, à entrada de cidades históricas, Brasões reclinados são indicação da qualidade histórica do lugar.
Seria, inegavelmente, a imagem do belo e grandioso Brasão de Sintra que deixaria de estar encaixotado e seria como que cartão de visita de município histórico.
Quanto aos azulejos desirmanados, pelas sua características e valor histórico, quantas vezes poderiam ser oferecidos - com sua história - em momentos especiais.
Fica a sugestão pois é destas coisas que se faz a "História do Lugar".
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