quinta-feira, 17 de maio de 2012

SINTRA: ANTIGO PAINEL DO VALENÇAS

QUANDO VOLTAREMOS A VER O BRASÃO DE SINTRA?

Os sintrenses devem lembrar-se. Em 9 de Abril de 1999 ruiu a parte inferior do antigo painel de azulejos do Palácio Valenças. Era este o painel:

 

O Autor, que deveria ter tomado imediato conhecimento, só soube do ocorrido vários dias depois da remoção total do painel. A maior parte dos azulejos ficou na parede e ele poderia ter ajudado à cuidadosa retirada das peças históricas. Cerca de 200 azulejos foram destruídos ou desapareceram.

Durante dois anos, houve quem não se esquecesse e lutasse por um novo painel.

Finalmente, encomendado em Outubro de 2001, um novo painel cerâmico seria colocado em 2003, decorridos 1482 dias sobre a triste “derrocada”. Ei-lo:


 O painel antigo

No primitivo painel (Julho de 1959) os azulejos eram rectangulares e mais espessos. O novo painel tem azulejos quadrados, com medidas normais.

No antigo, as cores eram mais fortes como se pode comparar. Há razões para isso, com reflexo na sua valorização histórica. Em 1959 foi utilizado pela primeira vez em Portugal um forno a gás, encomendado por Mestre Carlos Vizeu, que depois o devolveu devido aos elevados custos do consumo.

Segundo o Mestre, a cozedura a gás, dava mais belos tons e avivava as cores.

Recuperar o antigo painel é uma exigência histórica

Uma parte do antigo painel é totalmente recuperável, nomeadamente o brasão de Sintra, de grandes dimensões e que o Mestre considerava intacto.

A reconstrução do brasão num lugar nobre, visível do público, homenagearia o grande artista que nasceu em Lisboa e viveu em Sintra cerca de 60 anos.

A andança das peças que se salvaram

Passado um tempo, os azulejos antigos voltaram ao estúdio de Carlos Vizeu, em Almoçageme, onde ficaram vários anos. Depois do novo painel, o Mestre (precisava do espaço) ia pedindo para da Câmara lá irem buscar os azulejos.

Eu próprio insisti junto do antigo Chefe de Gabinete do Senhor Presidente da Câmara, mas o tempo foi passando sem a recolha se efectuar.

Contra o esquecimento, ia escrevendo. Em 16 de Junho de 2008, a Sr.ª Directora do Departamento de Cultura e Turismo deu-me conhecimento do “envio deste assunto para o Departamento de Obras Municipais (…)”.

Em 16 de Dezembro de 2009 (ano e meio depois), insisti por uma resposta, já que pretendia saber se os azulejos estavam “sob controlo e na posse” da “Câmara Municipal”. Voltei a insistir em 4 de Fevereiro de 2010.

Em 23.2.2010 fui informado pela mesma Sr.ª. Directora que os azulejos se encontravam na Reserva dos Museus Municipais desde 3 de Fevereiro de 2010. Seriam cuidadosamente analisados “aferindo-se, não só o seu estado, mas também as possibilidades de recuperação/enquadramento dos mesmos”.

Foram precisos 10 anos para se recolher um espólio histórico. Isto não enriquece o curriculum de algum responsável autárquico…

QUE NOTÍCIAS TEMOS DA RECUPERAÇÃO DO PAINEL?

Hoje, mais de dois anos decorridos sobre a chegada dos azulejos à Reserva dos Museus Municipais, e, talvez, da análise “cuidadosamente” feita no âmbito da “Colecção Municipal de Arte”, é legítimo que queiramos saber o que se passa.

Continuam guardados? Já foram apreciados? Estão montados?

Pergunta-se mais: - Onde os poderemos voltar a ver?




NOTA: Estava este artigo preparado quando tive conhecimento de ter falecido, em 30 de Março, o Mestre Carlos Vizeu. Sintra ficou muito mais pobre.

Carlos Vizeu foi escultor e ceramista (nacional e internacional), deixou riquíssimas obras de que apenas recordarei:

- Estátua do Bombeiro, em bronze, frente ao quartel de Bombeiros de Queluz; 
- Imagem de Cristo com 2,50 metros na Igreja de S. Vicente de Paulo;
- Painel sobre a vida de S. Paulo, na Igreja de S.  Paulo em Tete, Moçambique.



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