Há poucos dias, na RTP, foi apresentada uma reportagem que alguém, pela certa, terá encomendado, coincidindo com a grave crise que atravessamos.
Numa firma qualquer, o êxito terá sido alcançado graças aos colaboradores que, transformando – à hora de almoço – uma sala de reuniões em refeitório, passaram a levar comida de casa, à qual um microondas dá um toque de aquecimento.
Uma senhora com sotaque estrangeirado, parecendo ajustado ao novo acordo ortográfico, opinou sobre o encanto daquele convívio, não referindo, no entanto, se eram mais apetitosas as batatas fritas do A. ou a salada russa da B. ou mesmo se o Cachucho frito do C. cumpria as regras da tábua alimentar.
Passada a mensagem, seguiu-se a tão saudável convivência com os cigarros.
Digamos que, salvo outra intenção ainda pior, a RTP fez-nos meditar se valia a pena irmos comer, livremente, a um qualquer lado, mesmo à pressa, usando a benéfica pausa no ambiente de trabalho.
Como Governo e Confederações Patronais estão solidariamente empenhados na involução social da sociedade portuguesa, não admirará que – a breve prazo – pretendam eliminar o direito ao subsídio de almoço, com oferta – e destaque na TV – de uma ou duas sandes por trabalhador, a consumir no local de trabalho.
Direi como era em 1953 (há 58 anos), quando comecei a trabalhar.
O almoço, preparado na véspera, incluía sempre sopa. A comida era posta em marmitas e muitas vezes embrulhada em folhas de jornal (para não arrefecer muito). Transportava-se em lancheiras, muitas delas de cabedal.
Pelo caminho, com os solavancos, metade da sopa ia por fora. Comia-se a restante, que era aquecida em lamparinas a álcool, sempre existentes nos refeitórios.
Como o País, em vez de evoluir, anda para trás, os governantes do PSD e CDS estão no caminho que idealizaram para recuperar a história deste povo.
Até os transportes públicos…quem nos valhe?
O Governo de Passos Coelho e uns tantos que têm delapidado as nossas finanças, gastando milhões em carros que utilizam nos mais diversos fins, desrespeitam mais os trabalhadores do que o anterior regime em que havia o “Bilhete-Operário”.
O “Bilhete-Operário”, tinha o custo de uma só viagem e era adquirido antes das 7,30 da manhã. Garantia a viagem de regresso, assegurada por carreiras até muito tarde.
O actual Governo, perdendo a noção das medidas contra os trabalhadores e insensível ao que se passa na Europa, além de querer impor horários de trabalho nunca vistos ainda pretende eliminar-lhes as capacidades de regresso.
O rótulo de se “viver em democracia” não passa – hoje – de um ofuscante guarda-chuva com que pretendem tapar a galopante destruição das estruturas democráticas.
REGRESSAR A 1953? NUNCA MAIS. ESTAMOS NO SÉCULO XXI.
1 comentário:
Sr. Castelo, muito bom, este seu artigo. Estas são aquelas coisas para as quais não pedimos "ó tempo, volta para trás". Mas que estamos a voltar, ah disso não tenha dúvida.
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