“Lutarei até ao fim por libertar Lisboa de uma gestão incapaz (...)” Seara ao apresentar a candidatura
De súbito, Fernando Seara anunciou-se de candidato autárquico a Lisboa, a uma sexta-feira, dia de quase nulo impacto noticioso, quando o acto, pela grandeza, justificava ser espalhado pelas quatro partidas do mundo.
Miguel Relvas, seu promitente votante, não se vendo no acto, desvalorizou a cruzada libertária na qual lhe ficaria bem o papel simbólico de um Afonso Henriques, protegendo o candidato de se entalar nalguma porta, como sucedeu a Martim Moniz.
Com gestos, Seara passou a muitos a imagem do político perseguido por decisões judiciais (uma de um Tribunal Superior) e, ao relevar ser "jurista e docente universitário de Direito Constitucional", quem não o verá no mesmo nível do Constitucional?
Não se candidata em Viseu - onde tem sido eleitor - mas mostra apetência para libertar Lisboa, decisão que nada terá a ver com o que afirmou em 20.12.2002 ao DN: - "Ser presidente da camara municipal de Lisboa é ser a terceira figura do país".
Neste quadro, ainda que a reserva do terreno tenha sido provisória, nalguns meios esperava-se a actuação ruidosa de bombos e caixas de ressonância, divulgando a boa (ou má) nova. Notou-se pouca música, talvez uma estratégia para outros meios..
RTP aparece por Sintra e, "en passant", surge a ajudinha...
Para mim, mais uma visita da RTP a Sintra não teve o dedo nem influência de alguém para a promoção política de Fernando Seara ou da sua candidatura a Lisboa. Era para mostrar Sintra e, aproveitando, fazer o balanço das obras realizadas em 12 anos.
Para o êxito da transmissão da passada sexta-feira, a TV escolheu duas pivô repetentes, experts em histórias de Sintra. Uma das pivô, em tempos, conseguiu a proeza de baptizar de comboiozinho o centenário Eléctrico de Sintra.
A entrevista ao presidente da câmara, iniciada com um "Olá", realizou-se a um horário nobre, à hora de almoço, porque ao fim do dia as audiências baixam.
Depois de "um beijinho para o Tomás" (beijos em Sintra são como queijadas) e de elevar a pivô a "património de nós todos", Fernando Seara abordou temas com barbas, sem a clareza que muitos ouvintes gostariam, nomeadamente os lisboetas.
Omitiu que, em 12 anos, não resolveu os problemas de trânsito, estacionamento e criação de parques, daí resultando que centenas de viaturas passem sem parar na Vila. Mas creditou-se de "14 faixas de rodagem" para entrar em Sintra (são 16).
Enfatizou: - "Sabe que hoje, mesmo em férias, estamos a servir (...) mais de 5000 refeições nos nossos refeitórios escolares"? "Ninguém dá nota disso, mas quem dá nota disso são as crianças, os pais, as famílias (...)". Seria bonito se dissesse que:
São obrigações decorrentes de contratos programa, garantindo - nas férias escolares - almoços nos ATL, AEC e Jardins de Infância, segundo planos de Agrupamentos ou Escolas. O custo da refeição (1,46€) é fixado por Despacho Governamental.
No Verão de 2009, com eleições à vista, houve refeitórios que abriram em dois ou três fins-de-semana para apoio a carenciados, sem que voltasse a repetir-se...
Um bom momento foi vê-lo a olhar para o Palácio e falar do passado: - "(...) olhar para aqui para o palácio e sentir que aqui o D. Manuel assistiu, porventura, ao regresso de Vasco da Gama da India e começou a primeira globalização (...)".
Poderia ter acrescentado que foi Nicolau Coelho, comandante da caravela Bérrio, quem deu a notícia a El-Rei, porque Vasco da Gama tinha ficado...nos Açores.
Momento alto foi a alusão às visitas feitas por "presidentes de câmara da China", sem que a entrevistadora lhe perguntasse se da Popular ou de Taiwan.
Segundo Fernando Seara, os ilustres Autarcas ficam de "olhos em bico" quando se lhes explica a "singularidade portuguesa" de Sintra ser Vila e Sede num Município com duas cidades. Até a entrevistadora não resistiu: - "ai, não duvido, não".
Imaginemos o que aconteceria se o presidente de Sintra tivesse levado os visitantes às lojas chinesas que tanto têm ajudado no desenvolvimento e no comércio sintrense.
Aproximava-se o fim do tempo previsto. A pivô, elevada a "património de nós todos" por Fernando Seara, deu sinais de ter feito mal o trabalho de casa. Não devia saber que, em 21 de Junho, Fernando Seara se tinha anunciado de candidato a Lisboa.
Sem dar tempo para Seara se surpreender, perguntou de chofre: - "Estamos no final do terceiro mandato, são 12 anos à frente da câmara municipal de Sintra, quais são os seus próximos objectivos?
O "estamos" chocou-me. Gravei apenas parte da resposta: - "(...) é evidente que tenho um desafio que me puseram nos próximos tempos que é a câmara de Lisboa (...).
Eu que julgava que a RTP tinha vindo só por Sintra.
O botão salvador funcionou.
Nota final:
Espera-se que a RTP volte mais vezes antes das eleições, se não surgir algum contratempo. Talvez venha a constar que Martim Moniz passou por Sintra, antes de seguir para a libertação de Lisboa aos mouros.
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