quarta-feira, 10 de agosto de 2011

O SEXAGENÁRIO “PLANO DE GRÖER” (2)

Isolar a classe operária: uma ideologia

O Plano de Urbanização de Sintra (PUS), assinado pelo Sr. De Gröer em “Lisboa 23 de Julho de 1949”, apresenta dados que rapidamente se desactualizaram, porque tinha em vista manter Sintra "fora do formigueiro das massas humanas". Isto é, fora do progresso.

O mesmo Sr. De Gröer, entre 1938 e 1948, elaborou um Plano de Urbanização para Lisboa (PGUEL) onde, dando prioridade ao zonamento, apresentou propostas viárias e estruturais para a evolução. Mesmo assim, o PGUEL foi revisto antes de fazer 10 anos.

Em Sintra foi diferente. O Plano, cheio das palavras “proibido”, “nenhuma” ou “não devem”, transporta uma imagem negativa e castradora de progresso.

Denotando uma fobia em relação aos “operários ou pequenos empregados em Sintra”, contabiliza-os e calcula a sua percentagem em relação à “população fixa”, para apurar “uma margem de segurança” relacionada com o “tamanho dos novos bairros operários previstos no Plano de Urbanização de Sintra”.

O “Regulamento da Zona de Habitação Operária” tem, praticamente, o dobro de Artigos do que qualquer uma das outras Zonas.

O Senhor Arquitecto entendia que o parcelamento dos terrenos deveria dar lugar a lotes com “superfície grande”, “com excepção sómente para os lotes destinados a casas operárias”(!).

E as crianças dos bairros operários? Criou dois jardins públicos para elas…porque os pais, geralmente, utilizavam os seus jardins particulares…“como hortas”.

Portanto, depois da “guetização” dos operários, as soluções preconizadas por De Gröer serviam a - por ele chamada -  "população burguesa" e dirigiam-se aos “habitantes” vindos a Sintra, garantindo “o sossego, o repouso e a intimidade que eles procuram fugindo de Lisboa para um mês ou dois de férias”. “Importa salvaguardar o bem-estar destas famílias”.

Não admirará que, sendo o PUS elaborado a seguir ao de Lisboa, possam ter havido influências para que Sintra acolhesse uma camada restrita de veraneantes lisboetas.

Hotéis com mais de 20 quartos, só depois de uma lista de exigências cumpridas e um Júri que incluía o…Secretariado Nacional de Informação, o tal SNI do lápis azul.

Graças ao Sr. Arquitecto Étienne De Gröer, Sintra pode agora oferecer um repousante caravanismo selvagem junto ao Centro Histórico (que melhor sítio para um mês de férias?), enquanto inalamos o escape de longas filas de carros desde S. Pedro ou na Volta do Duche, apreciando os peões em pitorescas corridas no meio da confusão.

E, para Sintra se poder ufanar com a qualidade turistica, temos um anel de motéis, fora da Zona do Plano, os quais só abonam os responsáveis e deleitam os utilizadores.

Nitidamente o PUS destinava-se a uns privilegiados, sem misturas de operários.

O documento de há 62 anos reflecte a ideologia dominante daquele época. E agora? 

1 comentário:

Anónimo disse...

E agora, onde estão os operários, os agricultores, e todos aqueles que produziam e faziam o desenvolvimento do nosso, concelho,o civismo, o respeito pelo próximo, acho que tudo isso se está a perder, mas abunda o desespero , o subídio de desemprego, e os grandes senhores.