O Jornal PÚBLICO de 29 de Julho, noticiou a apresentação – ao executivo camarário – da “proposta preliminar de revisão do Plano de Urbanização de Sintra (de Gröer)”.
Trata-se de uma notícia de relevante interesse para os sintrenses, numa altura em que o Plano de Urbanização de Sintra (PUS), por ter comemorado os seus 62 anos de serviço público oficial, adquiriu o direito à merecida reforma.
No denominado site da Câmara Municipal de Sintra seria informação obrigatória. Mas, nem uma palavra sobre tal proposta preliminar, o que poderá indiciar uma ou duas coisas: irrelevante valia factual ou manobra de diversão para animar as notícias estivais. A discussão pública nem é para já...será mais para o fim do Verão.
Acusações ao sexagenário Plano
De vez em quando, para obstar ao desenvolvimento mas em nome de qualquer coisa nem sempre bem percebida, há quem “agarre” no PUS e, fazendo dele cartilha, invoque muitas das suas disposições, naturalmente as limitadoras.
Infelizmente, por parte de alguns dos seus defensores, é notório o alheamento em questões sobre as quais – concomitantemente – se poderiam preocupar.
O PUS, cujos méritos teve, certamente, na época da elaboração, rapidamente foi ultrapassado pela vida, pelo desenvolvimento social e consequentes migrações.
O Plano, elaborado em 1949, constitui uma excelente peça histórica que importa salvaguardar, mas que hoje em dia está obsoleto. Tornou-se numa arma para amedrontar políticos ambiciosos, sempre em fuga de quaisquer contestações.
Apesar disso, não impediu que, em Vale dos Anjos, se tenha licenciado uma monstruosa construção que, segundo parece, terá sido uma proeza mundial ao resultar da soma de vários pequenos espaços espalhados numa quinta.
Tal como, um pouco por todo o lado, se notam contradições com o Plano.
Pormenores interessantes, fora de época
Para ajuizarmos da época e das regras do PUS, e comprendermos alguns defensores, diga-se que o Sr. De Gröer preconizava uma “Zona de Habitação Operária”, tendo escrito num dos Artigos (felizmente retirado pelo C.S.O.P. - o 24/d): “As casas da Zona Operária não devem ser nem alugadas a veraneantes e turistas, nem vendidas a pessoas pertencentes à classe média ou abastada”.
Insistia que, para conhecer a importância a dar aos “bairros de habitação operária”, precisaria de saber a “proporção entre o número de população burguesa e o da população operária”.
Não localizando alusões do Sr. De Gröer ao uso de fatos-macacos ou ao cheiro de suor dos operários, entendi como sua a preocupação para que não existissem misturas, tendência classista a que o Plano se vinculou, para gosto de alguns.
Suportou-se, para elaborar o PUS, em alguns dados: - “Empregados da Câmara” eram 160; os “serviços municipais de água e dos esgotos” empregavam 21; e que, nos meses de inverno, as assinaturas da C.P. para o percurso Sintra - Lisboa, na “3ª. Classe”, envolviam 186 pessoas.
Evidentemente que o Arquitecto De Gröer, apresentou uma série de sugestões para o desenvolvimento turístico de Sintra, sugerindo locais para a implantação de unidades hoteleiras. O quase nulo aproveitamento dessas sugestões leva a pensar se alguém, ao abrigo de outras opiniões do mesmo PUS, as conseguiu embargar…
Sugeriu a construção de dois elevadores, um para se chegar ao Monte Sereno e outro ao Castelo dos Mouros, sem que tivessem avançado.
Por último, é interessante dizer-se que o Senhor De Gröer não morria de amores pelos eléctricos, tendo proposto a sua substituição por “auto-carros” ou “trolley-busses”.
Com um quadro de vida totalmente desenquadrado da realidade actual, o actual Plano de Urbanização de Sintra, elaborado pelo Arquitecto De Gröer, não apresenta qualquer viabilidade de progresso e é um documento sem sentido.
Na realidade, teve o mérito de engavetar o progresso de Sintra durante 62 anos.
Confia-se que a nova geração de homens e mulheres de Sintra encontrará o caminho adequado a Sintra e ao seu indispensável desenvolvimento.
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