domingo, 20 de agosto de 2017

MILOSZ...OS TEMPOS, TECNOLOGIA E SENTIMENTOS


Passou-se há dias...Milosz, gentil fotógrafo à lá minuta, na sua Excelência, propunha-se tirar-me uma foto para recordação futura, tal como nos tempos em que era criança.

Por momentos, revi o homem magro que, praia fora, com máquina e expositor de fotos ao ombro, nos fazia correr para vermos alguma jovem em fato de banho...

Pensava, na inocência de uma criança, que as fotos mostravam a alma.

Recordei que, esse mistério das fotografias, me fez comprar a meio dos anos 50 do século passado uma máquina Zeiss Ikon com um fole que parecia pano encerado.

Usava rolo largo, ajustava-se a abertura e a velocidade, um clique e, um pequeno manípulo, rodava para nova fotografia. A revelação, mais tarde, mostraria a obra.

Com a evolução tecnológica, nos finais dessa década, a máquina de fole descansou e foi substituída pela Arette IB para filmes em 35mm que aqui mostro: 



De então para cá, várias máquinas têm acompanhado a minha vida, sabe-se lá perseguindo que sonhos, que ilusões, que sentimentos escondidos nos rostos.

Sinto que perdi esse meu projecto, esse desejo de conhecer para estar avisado.

Milosz e os sentimentos

Com cortesia, senti-me na obrigação de dizer a Milosz que, ao longo das vidas, todas as fotos esbarram com os rostos, sem sabermos o que está para além deles.

Até hoje, nenhuma tecnologia ainda conseguiu que - para lá do rosto - se acedesse ao pensamento, aos sentimentos, às emoções que disfarçamos quando podemos.

Talvez seja bom para todos nós. Pelo menos, para os que guardam momentos belos ou de sofrimento. De sonhos realizados ou sem resposta. As dores da desilusão.

Como seria útil, ver-se - por detrás de um sorriso farto - a realidade dos pensamentos, os princípios nos procedimentos, os sentimentos tantas vezes falsos.

Preferi dar-lhe um abraço de saudade pelos tempos da infância, pelas fotos que, em tempo curto, me faziam sonhar vendo aquele escaparate cheio de outras vidas. 

Nesse abraço, sem palavras, ficaram muitas palavras e sonhos.  


Felizmente a tecnologia ainda não consegue evitar que sejamos humanos.

Um Bom Domingo para todos e...para o Milosz. 


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