terça-feira, 7 de junho de 2016

SINTRA, EXEMPLOS DE HONESTIDADE INTELECTUAL...

Confundir a Pena pela pena

Uma senhora (dizem que faz recolhas históricas para escrever) resolveu comparar preços para visitar o Palácio da Pena com os praticados nalguns monumentos europeus.

Alguém teria de mostrar a "desonestidade intelectual" dos que dizem que a política dos Parques de Sintra afastou os portugueses dos seus palácios. E deu exemplos.

Bem precisa a sociedade portuguesa e sintrense da intelectualidade honesta, rigorosa e brilhante, da verdade apurada e aprofundada. Isso merece medalhas...

Às vezes, entre a verdade e a inverdade, entre o rigor e a manipulação, a distância não é muita e, aí, a capacidade intelectual brota, jorrando honestidade em catadupa.  

Há riscos. Défices de raciocínio podem levar à clonagem do escrito para uso em  caixas de ressonância, que se sentem bem acompanhadas...sem apurarem a realidade. 

Comparar o que é incomparável...

A senhora e a caixa de ressonância, certamente impregnados pelo entusiasmo, não terão prevenido a confirmação - e rigor - do que tão solidariamente promoveram. 

Disseram que os turistas na Pena pagam 14€ e nos seus próprios países pagam muito mais. Entre os exemplos: - Em Versalhes 25€ e no Alhambra de Granada 32 euros.

Terão feito confusão nos preços, um pequeno pecado de transmissão, pois do seu gabarito cultural ninguém duvidará que já tenham entrado nos patrimónios referidos.

Sobre Versalhes (clique por favor para aprofundar) a senhora refere um bilhete de 2 (dois) dias (25€) para comparar com o da Pena por um dia (14€]. Boa malha...precisão.


Versalhes - Bilhete para 2 (dois) dias

Versalhes - Bilhete pata 1 (um) dia

Quanto ao Alhambra de Granada (clique por favor para aprofundar) confunde com o custo de 32€, pois na visita normal paga-se o mesmo que na Pena (14€) com mais visitas: Alcabaza, Palácios Nasridas, Generalife, Banhos da Mesquita e Jardins.


Vitória da honestidade intelectual

Ressalta que a honestidade intelectual funciona como um lampadário que nos alumia, que nos abre caminho para que não se viva em azinhagas culturais sombrias. 

É essa a grande virtude dos intelectuais honestos, ditos para-honestos, exibidores de dotes sobre-honestos, são a vanguarda do exemplo, das preocupações culturais.

E manifestam-se...investigam...transmitem...escrevem...

Ao que dizem, 100.000 portugueses visitaram a Pena em 2015 e 280.000 (!!!) insistem em contrariar os desonestos intelectuais, no conjunto dos monumentos.

Para orgulho intelectual, 1,0% dos portugueses (todos diferentes?) visitaram a Pena em 2015 e 1,8% visitaram os outros Monumentos explorados pela Parques de Sintra.  

Que alegria. Que êxito Cultural para os portugueses. A vitória da intelectualidade.

Compreensiva distracção cultural

Pegando na riqueza bem expressa em prosa comparativa, só a falta de tempo, que da de atenção e cuidados já falámos, justificará que não falem em Cultura da Juventude. 

Omitiram (senhora e ressonância) que em Versalhes os jovens com menos de 18 anos e os cidadãos da EU com menos de 26 têm sempre entrada gratuita...e que...

...de Novembro a Março, nos primeiros domingos do mês as entradas são gratuitas.

...ou que no Alhambra, as crianças com menos de 12 anos também não pagam.

Só por distracção se terão esquecido de referir estes acessos dos jovens à Cultura, comparando com a política de portas fechadas da Parques de Sintra.

Como interpretar?

Pela nossa parte, transportar para a escrita deve obedecer ao rigor e à fidelidade na recolha, para que não mostremos a quem lê que lebre é o mesmo que gato.

Obviamente que, quanto a nós, o que a senhora escreveu estaria mal suportado (pouco aceitável em quem parece que investiga a história) mas isso é um problema dela.

Só que, às vezes, os objectivos não ajudam a dissipar a névoa das intenções. 

Quais seriam as intenções?

Pelo menos lutarem contra a "desonestidade intelectual". 

2 comentários:

Nuno Maior disse...

Caro Fernando,

Por acaso o tal artigo que refere tb me colocou algumas reservas... Julgo ter enviado esse comentário para a origem do artigo, mas por falta de conhecimento da minha parte talvez, admito, não foi publicado.

Esse mesmo "artigo" não faz a comparação entre o nivel de vida de uma familia de classe média francesa e portuguesa... por exemplo.
Ou não refere a diferença de visitas internacionais vs nacionais dos monumentos para se ter bem a noção que quem visita os mounmentos de Sintra são na sua GRANDE maioria estrangeiros.

Enfim haveria mais algumas coisas a apontar... Mas agradeço desde já a sua analise que desmonta bem o tal artigo.

Só tenho pena que esta sua analise não seja "colada" ao artigo original.

Um abraço

Fernando Castelo disse...

Estimado Nuno,

Começo por lhe pedir desculpa por só agora ser publicado o seu comentário. É que não me surgiu o aviso e só hoje consegui aceder ao GMAIL onde notei a sua contribuição.

Em segundo lugar o meu agradecimento pela sua visita.

É evidente que a manipulação por vezes atinge pormenores ridículos, mas há sempre quem esteja disposto a colaborar nela, figurinhas que falam bem e por vezes encantam, mas passam uma esponja sobre as restrições culturais que decorrem. É bonito serem cultos, é bonito misturarem-se - se necessário - com a "nata" da aristocracia porque dos pobres vem muitas vezes o cheiro do suor...e os pobres são ricos a trabalhar, seus filhos podem passar sem usufruir dos acessos, esse sim reservados às elites.

Foi de propósito que não referi o documento ou o texto da entrevista, tal como deixei na penumbra o blogue que se ufanou do texto da Senhora por estar bem acompanhado.

Nem a Senhora nem a "caixa ressonância" justificavam, pela sua posição, ser citados.

Um abraço