domingo, 29 de maio de 2016

DAS ALCACHOFRAS SELVAGENS AOS SONHOS DE VERÃO...

Era por esta época que os campos se enchiam de belas flores selvagens, desde as azedas às alcachofras que viriam a encher-nos de sonhos em noites de Verão.

A Natureza manteve-se fiel: Eram assim as alcachofras da minha juventude 

Das primeiras, poucas pessoas saberão como é bom esgravatar a terra, apanhar as suculentas raízes e depois de lhes sacudir  a terra, comê-las...

Mas hoje as recordações vão para as alcachofras, as selvagens evidentemente.

Com o aproximar dos Santos Populares, a rapaziada - talvez por não existirem tablets e outros desvios dos pensamentos criativos - preparava o material para as fogueiras.

Era pelos Santos Populares, sob olhares fiscalizadores das mães, que rapazes e raparigas se encontravam a pretexto de saltarem à fogueira juntos.  Depois do salto, à sucata, ainda se diziam umas palavras ternas, que enchiam o coração de alegria. 

Depois de muito salto, com as roupas impregnadas do cheiro a fumo, as paixões escondidas tinham o adequado teste: O Teste da alcachofra.

Por artes quase mágicas, aproximando-se a hora de se apagar a fogueira, rapazes e raparigas encontravam as alcachofras para queimar na fogueira. 

Queimada na fogueira a flor da alcachofra, seguia-se a cerimónia de enterrar o caule num terreno perto da nossa casa, para na manhã do dia seguinte ver se reflorescera.

Era uma noite de ansiedade para os jovens...de sonhos...de desejos. 

Com a frescura da noite, na maior parte das vezes a alcachofra, pela manhã, estava de novo viçosa, bonita, enchendo-nos o coração de alegria pela paixão correspondida.  

Não sabemos quantas das escondidas paixões vieram a concretizar-se pela vida fora. Muitas acabaram por ficar escondidas para sempre. 

A vida tem destas coisas...quantos sonhos ficam pelo caminho.

A alcachofra é um pouco como a vida: tem uma inigualável beleza, mas mostra-nos espinhos dificeis de gerir e por vezes dolorosos.

Ao apanharmos a imagem destas alcachofras, tão selvagens e belas aqui ao lado das nossas casas, somos levados aos tempos da nossa juventude. 


Um bom Domingo.


 





Sem comentários: