quarta-feira, 8 de julho de 2015

SINTRA: QUE QUALIDADE DE VIDA?

Nas comemorações do Dia do Município, o Presidente da Câmara abordou, com um ou dois flashes,  a qualidade de vida no concelho, ficando no ar alguma curiosidade. 

Nesta sociedade em que vivemos, extrapolarmos alusões à sua qualidade é um caso sério, tantos são os factores a ter em conta e determinantes para as condições de vida.

Para avaliarmos, é preciso vestirmos as diversas peles, já que a boa qualidade para uns pode não corresponder da mesma forma para outros. Damos exemplos:



Viver-se assim num Centro Histórico é boa qualidade de vida ou má de quem devia resolver? 

A visão comum, servindo autarcas e munícipes, só será realidade se ambos pisarem os mesmos terrenos, evitando riscos de ilusões por conclusões pré-formatadas.

Como valorizar assimetrias no concelho de Sintra?

Num concelho tão heterogéneo, é melindroso tentar avaliar-se a qualidade de vida, a menos que os inquiridores se contextualizem segundo regras indicadas.

Uma pergunta nuclear: "Conhece a sede do Concelho"? Logo aqui, em virtude das deslocações pendulares, pelo menos no Cacém haverá uma fronteira por derrubar.

Nos cuidados de saúde primária e hospitalar, que padrões de igualdade existem entre os que residem a Norte, Sul e Poente do território e os que vivem na Zona Nascente?

E a população escolar? A bitola das prestações alimentares, desportivas e educativas é igual em todos os Agrupamentos? Do Ramalhão a Casal de Cambra?

De que estruturas desportivas e culturais dispõem os munícipes e como elas se repartem pelo território. Quais as facilidades e dificuldades nos seus acessos?

A vida é limitada pelos transportes públicos, maus nas necessidades do território para cá do Cacém e melhores para lá, envoltos nas Coroas da Área Metropolitana de Lisboa.

Que qualidade de vida terão tantos que, em cada sentido, gastam mais de hora e meia para chegarem aos seus postos de trabalho ou regressarem a casa?

O direito à Cultura, com trancas nas entradas...

Como avaliar o acesso à Cultura se uma empresa de capitais públicos, gestora quase omnipotente de espaços históricos, inibe a entrada gratuita a jovens até aos 17 anos?

Praticamente, a empresa Parques de Sintra-Monte da Lua fechou a serra - a nossa serra - ao usufruto colectivo, a um património que é nosso. 
  
Que qualidade? E onde?

Não será possível padronizar a qualidade de vida no concelho pela Volta do Duche (todos os dias varrida) ou pelas zonas verdes e jardins à volta do Centro Histórico. 

Bastará caminhar-se um ou dois quilómetros e as perspectivas de qualidade ambiental e residencial começam logo a comprometer-se a uma cadência assustadora. 

Os lixos, o abandono, o desrespeito pelas obrigações assumidas pelo poder local, nitidamente em confronto com o chamado democrático, espelham os autarcas.

As autoridades, com muito pessoal Volta do Duche acima e Largo do Palácio de Sintra abaixo, raras vezes surgem fora daí, com reflexos...na falta de segurança periférica.

Existirá uma Zona de Conforto?

É indesmentível que há. Dela nos preocupamos - gostamos de a mostrar a visitantes - mas é uma imagem contraditória a muito do que se passa na maior parte do concelho.

E em nome da equidade entre munícipes, os autarcas não podem olvidar que o grosso das receitas municipais provém de impostos gerados no restante território (IMI e IRS).

Neste quadro, será mais importante a resolução dos problemas, antes de se dar estampa a resultados estatísticos saídos de médias que misturam os factores.

Para se evitar que 10 ou 15% da população total do concelho com melhor qualidade de vida sirva de bitola para atenuar as carências dos outros 85%.


Nota: A este propósito, pode dizer-se que, entrando nos concelhos vizinhos de Oeiras e Cascais, temos uma visão alargada do que melhora em qualidade de vida. É uma pena que assim seja.

Sem comentários: