quinta-feira, 2 de outubro de 2014

SINTRA: PEDRO E 费尔南多 MAIS "PORTUGUESES" QUE ANÍBAL?

HISTÓRIAS DE DOMINGO NUM PALÁCIO PERTO DE SI..(*).
Domingo, 11 horas: Aníbal, português e reformado, nascido em Sintra mora na Amadora. Ele e Mulher vivem com dois netos, agora universitários em Letras e História. Alvitra a todos a ida ao Palácio Nacional de Queluz,  para apoio a uma tese sobre D. Maria I. Entravam, felizes, mas ouvem: - "Façam favor, a entrada é paga...cada sénior 8,50€ e os jovens com mais de 18 anos 9,50€ cada".
Aníbal ficou aflito. Na Minabela fiavam-lhe. Não contava pagar e foi o neto mais velho que lhe estendeu os 36 euros exigidos na bilheteira. Aníbal mastigou em seco o custo das entradas e disse "...da última vez que aqui estivemos - ainda não há muito tempo - os portugueses não pagavam entrada aos Domingos".
Domingo, 11,30 horas: Pedro, português remediado, com casa em Massamá, Sintra, ávido de rever a beleza de Carlota Joaquina leva a família ao mesmo Palácio de Queluz. Chega à bilheteira, mostra um recibo dos SMAS e prova a identidade com o passe da CP. Recebe bilhetes de entrada  gratuita pelo simples facto de ser "residente em Sintra". Aproveita e respira ar fresco nos jardins. 
Domingo, mesmo Palácio, 12 horas: 费尔南多, habilitado com um visto GOLD de residência especial, instalou-se num Clube de Campo próximo. "Qué-lo-vel" a Sala dos "Embaixadoles". Puxa de um monte de papéis, alguns assinados por PP. Alguém lhe faz  a vénia e sugere que volte para assistir a um dos Saraus de Música Clássica. "Entladas glatuitas"? Direito de residente, Senhor 费尔南多.
Todos residentes na Linha de Sintra, todos diferentes nos direitos...
Pergunta Pertinente

Os exemplos acima satisfizeram a Administração da empresa de capitais públicos Parques de Sintra - Monte da Lua por ter retirado aos portugueses (excepto a residentes em Sintra) o antigo direito de entrarem gratuitamente aos Domingos?


Palácio Nacional de Queluz, a negro até voltarem as visitas gratuitas aos Domingos para todos os portugueses

Palácio Nacional de Sintra, a negro até voltarem as visitas gratuitas aos Domingos para todos os portugueses

Não se questiona o direito dos munícipes de Sintra. Contesta-se, isso sim, o Princípio da Desigualdade conducente à limitação do acesso à Cultura e a Bens Nacionais, com reflexos negativos evidentes nas famílias mais desfavorecidas.

Ainda por cima não sendo as restrições compensadas pelo direito ao acesso gratuito  por parte de jovens até aos 17 anos, como é previsto pela Comunidade Europeia.

Enfim, a vida dos povos tem destas coisas: - O Presidente da Empresa de Capitais Públicos que fechou as portas aos portugueses, acabaria por ser condecorado no passado dia 10 de Junho precisamente em nome dos mesmos portugueses...

Cultura implica com portas abertas, mantê-las fechadas foi opção.

Afinal, quantos portugueses entravam gratuitamente?

Fazendo fé no Suplemento Economia do Expresso (25.01.2014) que entrevistou o presidente da PS-ML (medalhado no 10 de Junho), os visitantes não estrangeiros durante o ano de 2013 terão sido apenas cerca de 120.000 (7% do total).

Nesses 120.000 estarão incluídos residentes em Sintra, não estrangeiros embora possam sê-lo. Na hipótese, pouco provável, deste lusitano grupo só visitar Parques e Palácios aos Domingos, teríamos a visita dominical de 2300 portugueses.

Logicamente a comunidade de 120.000 portugueses excluídos do direito à gratuitidade, ter-se-á repartido ao longo do ano, daí a média de 300 por dia. Ou seja, em 52 Domingos, terão sido menos de 15.600 os forçados a pagar...

Será motivo para uma Administração se sentir realizada quando 93% dos visitantes são estrangeiros? Ou isso deve-se a medidas que desincentivaram os portugueses?

O que representaram, em receita, essas 15.600 entradas de portugueses? Pouco mais que dois anos de ordenado bruto, sem mordomias...de um Administrador.

Assim, as medidas contra as entradas gratuitas não podem enquadrar-se apenas em objectivos económicos, pelo que - por agora - a excepção para "residentes no concelho de Sintra" pode não ter passado de um manto para conforto doméstico.

As desigualdades emergentes da eliminação de um direito dos portugueses não poderão continuar, pelo que a Empresa ou uma Entidade Oficial as devem corrigir.

As Interessantes HAPPY HOURS

Fechadas as portas de Domingo aos portugueses não residentes em Sintra, surgiram Happy Hours (horários fixados e pequenas reduções no preço) que, na prática, não redundam em benefícios significativos para os visitantes nacionais.

Estranhamente, ou talvez não, as Happy Hours apenas existem para visitas aos Palácios Nacionais e Parques da Pena e de Queluz, não se aplicando no Palácio Nacional de Sintra e outros espaços geridos pela Parques de Sintra - Monte da Lua.

Aliás, pelo menos no Palácio Nacional da Pena, o abaixamento de preço beneficiará em maior número os turistas estrangeiros, quase sempre levados por guias. E, neste caso, os preços ainda serão mais baixos (preço de Agência 12,75€ em vez de 13€).

Algo é bom para os portugueses: - Se juntarmos mais de 11 potenciais visitantes, a Parques de Sintra fará a esse ajuntamento o preço de Agência. Uma gentileza...

Claro que, neste quadro, estão de parabéns os diversos defensores do sistema, uns pela decisão brilhante de diferenciar os portugueses, outros pela ilustrosa defesa, claramente elitista e sem um suporte válido em termos de justiça social. 

Esperemos que a próxima Administração da Parques de Sintra - Monte da Lua - em nome dos direitos de acesso à História e à Cultura, acabe com as desigualdades e reponha o antigo direito de todos os portugueses.  

(*) O descrito pode suceder em qualquer dos outros Parques ou Palácios Nacionais geridos pela mesma empresa: - Palácios Nacionais de Sintra e da Pena além do Castelo dos Mouros, Monserrate e Capuchos.  

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