quinta-feira, 12 de junho de 2014

SINTRA: PALÁCIOS, DESIGUALDADES, SEMENTES DE ELITISMOS

A recente insígnia imposta pelo Presidente da República - entenda-se pelos portugueses - ao presidente da empresa de capitais públicos Parques de Sintra - Monte da Lua, reveste-se de um pormenor curioso, para não dizer anacrónico.

Com efeito, em 2012, aos portugueses na sua generalidade, foi a Administração presidida pelo agora condecorado que acabou com o direito que tinham à entrada gratuita aos Domingos nos Parques e Palácios Nacionais  de Queluz e Sintra.

Para satisfação de residentes em Sintra, manteve o privilégio apenas para estes. 

Daí que recupere alguns "desabafos" que nos chegaram:
"Veja que nasci na Vila e trabalho em Sintra desde sempre. Como resido num concelho vizinho aos Domingos tenho de pagar para visitar os monumentos da minha terra" E.F. (Cascais)
"Semana a trabalhar e domingo de manhã para tratar de duas crianças e dar-lhes almoço, como chegar a algum parque antes do preço aumentar por passar da hora?" N.P. (Casal Cambra)
"Moramos em Queluz, para a visita sem ser ao palácio daqui e ir aos de Sintra gastamos três pessoas quase 20 euros só em transportes e temos de chegar lá antes da uma" C.M. (Pendão)
A questão das entradas gratuitas aos Domingos nos Parques e Palácios Nacionais de Sintra (Vila, Pena e Queluz) exige ser apreciada pelas desigualdades emergentes.

As afirmações acima são de pessoas que não entram nos parque em carrinhas destinadas a visitantes ilustres ou que delas se aproveitem. São pessoas vulgares, que gostariam de facilidades para visitar Palácios e Parques com bilhetes gratuitos.

A empresa gestora dos Parques e Palácios, fixando nas 13 horas as entradas gratuitas aos Domingos, já as limita aos munícipes; mas aos portugueses não residentes em Sintra foi pior, porque retirou o direito que todos tinham à gratuitidade dominical.

E não vale a pena inventarem-se pretextos ou diversões dialécticas para afastar a apreciação, porque não fugiremos do tema dos direitos eliminados.

Tal como não vale a pena atribuírem-se culpas à ausência de visitantes sintrenses por falta de divulgação massiva do direito à entrada gratuita.

No fundo - piedosas preocupações só surgiram após se falar no fim de gratuitidades e altos preços - à indiferença pelos cidadãos nacionais contrapôs-se o incentivo para que os sintrenses justifiquem o direito que poucos usufruem de forma sistémica.

A D. Naíde P. (Casal Cambra) e o Sr. Custódio M. (Pendão), sabem das entradas gratuitas, mas não as utilizam porque lhes foram espartilhadas pelo horário e pelo custo da deslocação. A D. Elsa F. (Cascais) é injustamente tratada onde nasceu.

Enquanto isso, quem viva perto dos Palácios ou Parques e seja munícipe, acede sem custos aos Domingos, pode conhecê-los em toda a profundidade, beber tudo o que jorre das fontes disponíveis e...lamentar que outros não sejam tão felizes.

Será que - sem contestar o usufruto dos sintrenses - os residentes em Sintra (serão sempre munícipes?) contribuem mais que os outros cidadãos nacionais? Ou assiste-lhes algum direito excepcional de entradas gratuitas? Não consta tal coisa...

Em tese, como iguais, partindo do princípio da igualdade entre cidadãos, não poderia existir maior desigualdade. E quem advogará excepções para Sintra?


Qual é mais pato? 

Na sociedade moderna, ao aumento das desigualdades correspondem disfarçadas elites das quais os portugueses se devem proteger e firmemente combater, para que - nas convicções e direitos - possamos ser mais iguais.

A menos que o Princípio da Desigualdade se coloque sobre os outros Princípios.

Obviamente que há quem goste...



Sem comentários: