sexta-feira, 30 de novembro de 2012

SINTRA: 2007/2012 - 1882 DIAS À ESPERA DO FONTANÁRIO...

SERÁ QUE NÃO HÁ RESPONSÁVEIS PELO PATRIMÓNIO SINTRENSE?

É verdade, caro leitor: Há mais de cinco (5) anos que o Fontanário Neo-Manuelino da Estefânia sofreu o roubo da parte superior. Digo roubo, porque foi isso o anunciado.

Poucos dias depois, por decisão a um elevado nível (os trabalhadores precisaram de ordens) foi retirado do local o que não foi roubado, portanto a peanha de suporte e as cubas intactas.

O pavimento, rapidamente reparado como se nada lá tivesse existido.

Era este o nosso Fontanário, património histórico que exige respeito:


Hoje, no local onde existia o Fontanário, continua o vazio.

O Senhor Presidente da Câmara e o seu Vice-Presidente - também Vereador do Ambiente e Gestão Urbana, onde se enquadrará esta problemática - passam diariamente no local mas talvez não se tenham apercebido de que algo ali falta.

Algum deles terá dado ordens para a retirada do Fontanário?

É de admitir que múltiplos afazeres, quiçá de novos projectos para candidaturas autárquicas, não disponibilizem tempo para a prestação de contas e esclarecimentos sobre este património. Que bela prova da Dedicação que ambos prometeram.

É certo que, para quem anda por Sintra há 11 anos - pormenor que deve ser realçado - cinco anos à espera da recolocação do Fontanário no seu local pode ser uma ninharia. Para nós é uma vergonha este tempo de espera. Esta angústia por nada sabermos do que se passa com o que é nosso:


Evidentemente que não surpreenderia o súbito aparecimento do Fontanário no local.

Começando em breve a contabilização de obras levadas a cabo, a recolocação do Fontanário, bonito, limpinho e recuperado, ajudará às fotos da praxe.

A que se seguirão os elogios - a que nos vamos habituando - pela excelente obra, inteligência quase artificial, ou elevada sapiência.

Onze anos de Dedicação exemplar...



quinta-feira, 29 de novembro de 2012

VIVER EM SINTRA: ATLETAS NO ABSTRACTO...

O PÓDIO...


É comovente o entusiasmo militante, diria frenesim, das corridas e preparos para alcançar - às vezes atrapalhar - o ambicionado primeiro lugar no pódio.

Parece que é amanhã, ou depois, que o atleta pisa a pista pela primeira vez. Nada disso, há 11 anos que treina, tem feito equipa com outros, os mesmos objectivos. 

Uns tantos abstractos, colam-se ao pé-do-atleta. Ou aos calcanhares. A dedicação ao atleta surge e expressa-se rápida, não sejam outros a ficar com os sapatos do dito.

Colam-se camisolas em dorsos minguados. Cartazes, saudações, moções obrigarão o atleta a olhar por eles, talvez até lhes atire umas sapatilhas mesmo rotas.

"É só uma palmadinha para o animar" dizia-me a D.Micas do talho, que tem um pequeno problema com a ASAE e precisa de alguém que corra ao lado dela.

A Quicas, baronesa do Arco do Velho, de tão desejosa de ter tartan na pista do seu encantotomou lugar junto à meta, para lhe lembrar tudo o que precisa.

Tolan, lutador assim alcunhado desde que o navio se virou em em frente ao Terreiro do Paço, promete garantir a segurança do atleta no final da prova.

O Biquinhos está no auge. Tornou-se mais alto e visível quando, ao ver o andamento da corrida, deixou de assentar os calcanhares no chão.

O beijoqueiro ainda não apareceu. Talvez espere pela reportagem da TV. Talvez acabe por abraçar o atleta só no fim da prova. Ele que não falha estas coisas pois, em beijos, já tem um historial de pôr os cabelos em pé a quem os tenha.

A cadeira do atleta ainda está vazia, mas, à volta, já faltam cadeiras para tantos emocionados. Ainda há uma para ocupar, dos dois lados...

Vamos a ver quem ganha a corrida.

Depois, iremos tratar das nódoas negras.







 

domingo, 25 de novembro de 2012

FINALMENTE A GRANDE CORRIDA...

Sabe-se que a crise é grande. Que as necessidades obrigam a sacrifícios.
 
A causa pública é apetecível. Os prémios sempre chorudos.
 
Não admira a corrida, porque o Pai Natal está a caminho.
 

Na maratona política, quem mais depressa se chegar perto do meta, melhor.

Pelo menos ficam na primeira fila, mesmo sem camisola amarela.

O candidato, de tão independente, desprezará muitas camisolas oferecidas.

Em vez de recompensas, teremos saldos de fim-de-estação.

Ao menos podiam esperar pelo tiro de partida...



sábado, 24 de novembro de 2012

SINTRA: COM 22.560 DESEMPREGADOS, QUE MEDIDAS FORAM TOMADAS PELA AUTARQUIA PARA MINORAR AS DIFICULDADES?

O Natal deste ano será mais difícil para muitas famílias, nomeadamente em Sintra onde, no Centro de Emprego, estavam inscritos em Outubro 22.560 desempregados (11.409 homens e 11.151 mulheres), dos quais 11.704 entre os 35 e 54 anos.

Dá que pensar. Em Dezembro de 2005 (quando a Dedicação a Sintra entrou no segundo mandato) os inscritos eram 17.086. Em Dezembro de 2011 eram 19.868.


 Instalações da SAMSUNG abandonadas há anos, depois de centenas de despedimentos. 

Tão gravíssimo problema exigiria todos os esforços para acelerar o desenvolvimento. Infelizmente, sente-se que, nestas terras, se busca mais curricular carreiras politicas.

Até se podem fazer milhares de quilómetros - suportados pelo erário público -  a visitar todas as capelinhas, mas o fundamental, o direito ao trabalho, em nada beneficia.

"donos". Guardiões e guardiãs que bloqueiam. Fazedores de opinião por atacado. 

Especialistas que invocam Byron ou Herculano (deste só o que lhes interessa...) não são capazes de expressar opiniões sobre a extinção de freguesias!!!

Dinamizar também é apoiar

Um exemplo do que se passa lá fora em tempos de crise, onde se dinamiza a economia mais débil, para que nesta época se consigam fundos para uns tempos.

Veja-se a praça mais nobre de Munique - a Marienplatz - das mais históricas da Alemanha, ontem pelas 10,30 horas. Não para contar peões, mas, sim, descrevê-la: 


À direita a Câmara Municipal (Rathaus), com um enorme pinheiro que é colocado três ou quatro dias antes deste mercado popular. Na via só transportes públicos.

Nas tendinhas, patrocinadas pela Câmara (até no pátio interior existem) convive-se. Lá se vendem frutas; o cheiro a amêndoas torradas e açúcar é uma tentação. Artigos para a árvore de Natal e artesanais quebra-nozes (Nussknacker) são aos milhares.

Ao fundo, à direita, os chocolates da Wöerners desafiam-nos. Por todo o lado aparecem espetadas de fruta banhadas com chocolate.

Nos pequenos abrigos, com frio, neve ou chuva, não se pode evitar uma caneca de vinho quente (Glühwein) que aquece a alma e nos leva a conviver.

E em Sintra? A história impõe-se...

Frente ao Palácio Nacional só viaturas com autorização. A Volta do Duche, que poderia trazer vida à Vila, parece à noite um sarcófago.Na pedonal da Heliodoro Salgado,  que liga a zona histórica com a parte Norte, nem o comércio local a aproveita.

Já uma vez li que em Sintra "não há artesanato".

Esta a realidade de Sintra. Os autarcas no poder, não desestabilizando o "status" de algumas figurinhas, deixam tudo andar ao sabor da boa imagem e não tomam as decisões necessárias para que Sintra, ao menos nesta época, se adapte à vida. 

Para os responsáveis Sintra será diferente. É melhor dar cabazes aqui e ali.  

Quantos desempregados não estariam ávidos de explorar umas tendinhas?

Por estas e outras razões cada vez estamos mais no fundo e endividados. 



quinta-feira, 22 de novembro de 2012

OUVIMOS DIZER: NÃO QUERES CONTINUAR A TRABALHAR CONNOSCO

Estás arrasado. Já não podes andar de cá para lá.
Estás muito cansado. Já não és capaz de aprender.
Estás liquidado.
Não se pode exigir de ti que faças mais.

Pois fica sabendo:
Nós exigimo-lo.

Se estiveres cansado e adormeceres
Ninguém te acordará nem dirá:
Levanta-te, está aqui a comida.
Porque é que a comida havia de estar ali?

Se não podes andar de cá para lá
Ficarás estendido. Ninguém
Te irá buscar e dizer:
Houve uma revolução. As fábricas
Esperam por ti.

Porque é que havia de haver uma revolução?
Quando estiveres morto, virão enterrar-te
Quer tu sejas ou não culpado da tua morte.

Tu dizes:
Que já lutaste muito tempo. Que já não podes lutar mais.
Pois ouve:
Quer tu tenhas culpa ou não:
Se já não podes lutar mais, serás destruído.

Dizes tu: Que esperaste muito tempo. Que já não podes ter esperança.
Que esperavas tu?
Que a luta fosse fácil?

Não é esse o caso:
A NOSSA SITUAÇÃO É PIOR DO QUE TU JULGAVAS.

É assim:
Se não levarmos a cabo o sobre-humano,
Estamos perdidos.
Se não pudermos fazer o que ninguém de nós pode exigir
Afundar-nos-emos.

Os nossos inimigos só esperam
Que nós nos cansemos.

Quando a luta é mais encarniçada
É que os lutadores estão mais cansados.

OS LUTADORES QUE ESTÃO CANSADOS DEMAIS, PERDEM A BATALHA.

                                                                                      Bertolt Brecht

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

SINTRA, S. PEDRO CONTRA A EXTINÇÃO DE FREGUESIAS

SÁBADO 24 ÀS 14,30, TODOS EM FRENTE À CÂMARA

A MINHA FREGUESIA TEM UMA HISTÓRIA RIQUÍSSIMA A RESPEITAR

Como foi possível que um "projecto" para a Extinção de Freguesias em Sintra tenha chegado a este ponto, a esta confusão, ao descalabro territorial?

Porque não se trata apenas de extinguir. É o recuperar de problemas, de impossibilidades, de travões de toda a ordem ao desenvolvimento local, ao serviço público a que os munícipes e fregueses têm direito.

A responsabilidade é das forças políticas no poder, que - nada inocentemente - descuraram o sentir dos munícipes e, submissos aos ideólogos governamentais, deixaram correr o tempo até arranjarem diversões jurídicas que não os responsabilizassem.

Para o retrocesso do Poder Local era necessária uma dócil Maioria Silenciosa (*).

Desde a primeira hora que, pelo menos os Senhores Presidente da Câmara e seu Vice-Presidente (ao que se diz com candidatura anunciada para breve...) deveriam ter definido as suas posições. Comodamente agarraram o NIN. Não esqueceremos.

A HISTÓRIA DE S. PEDRO PERDE-SE NO TEMPO...

D. Afonso Henriques aqui construiu uma das primeiras Igrejas Paroquiais, a nossa Feira já existia no Século XII, o Castelo dos Mouros está paredes-meias connosco.

A quinta do Ramalhão, a Capela de S. Lázaro, a Penha Longa, o Chalet da Condessa D'Edla  , o Palácio da Pena e os Lagos, sempre foram de S.Pedro:


 A Igreja de Santa Eufémia bem lá no alto, deste lado da vida de Sintra, é um padrão de como terá começado Sintra e a sua fé:


O EMBUSTE DA EXTINÇÃO...

Não existe a mínima consistência para a Extinção de Freguesias pretendida. Mais numas, mais noutras, como é o caso de S. Pedro, trata-se de um aberrante embuste.

Pelo que se vai sabendo, o pretexto de redução de custos já foi desmascarado pela intenção de se criarem novos (bem remunerados) cargos de secretários.

Querem acabar com as freguesias porque é o poder mais próximo do povo.

A ISSO, TEMOS DE DIZER: NÃO!

(*) Espero que nenhum oficioso defensor me atribua outro sentido ou ofensa pela frase.



terça-feira, 20 de novembro de 2012

CURIOSIDADES...AOS ESSES

AOS ESSES, SEM SENTIR DORES NOS RINS...
 
Grand Teton National Park, Snake River, USA

sábado, 17 de novembro de 2012

SINTRA: “CASINO”, A PALAVRA QUE FALTA

Para quando a palavra certa, no lugar certo?

“Cada um puxa da bolacha que quer comer”, Viktor Gourmet

Talvez pela idade, perdi o gosto pela degustação e exaltação de doces banais.

Mesmo assim, acho positivo que o “Casino de Sintra” tenha recuperado o nome original, embora nunca lá tenham existido salas de jogo. A alteração satisfez memórias e recordações nobres. Foi um doce…

A mudança, pelo que se sabe, foi apenas no nome, mantendo-se salas e salões, continuando a ter capacidades óptimas para eventos culturais.

Não possuindo informações privilegiadas sobre a utilização futura, apenas conheço alusões a uma possível dinâmica cultural nas instalações do “Casino”. É altura de se perguntar porque tal não foi realizado antes. O empecilho seria o nome?
 
Não só não exibe o nome CASINO como o cartaz exibe: Museu de Arte Moderna Sintra
 
O nome que falta

A denominação de “Casino de Sintra” originou naturais entusiasmos, embora – ao que se sabe – não tenha sido feito o alerta para que o nome voltasse à frontaria do primeiro piso, como existia desde a construção. Terá sido uma lamentável distracção?

Ora, da primeira proposta (24 de Outubro) à aprovação em 5 de Novembro e até hoje, decorreu tempo suficiente para que o Executivo da Câmara de Sintra e seus eventuais conselheiros acautelassem a imediata recolocação da palavra CASINO.

Provavelmente, da história, o que mais faltava – e continua a faltar – é a palavra.

Sendo quase garantida a espontânea vontade de quem propôs a alteração do nome, por certo após complexos estudos, consultas e recolhas, a decisão tomada ao fim de 11 anos de poder deveria refazer melhor a história e o espírito sintrense. 

Em tese, os pormenores não ilustram tanto o entusiasmo dos patronos da mudança de designação, nem suportam palavras de sublimados reconhecimentos.

Foi um acto. Uma decisão. E pronto…
 
 
 

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

SINTRA: QUE RESPEITO PELA HELIODORO SALGADO?

Não duvido que a zona pedonal da Rua Heliodoro Salgado é um incómodo.
 
Nota-se facilmente pela actuação de organismos que deveriam zelar pela sua dignidade e pelos próprios autarcas a quem caberá - se disso forem capazes - tomar medidas adequadas ao bem estar dos cidadãos e ambiente local. 
 
Já não bastava que, debaixo dos olhos dos autarcas passantes pelo local, se tenham inicialmente colocado contentores para resíduos sólidos.
 
Depois, quase encostados aos do lixo, foram colocados outros, mais crescidinhos, para ganhos com a reciclagem de que os munícipes não sentem os reflexos. Passou a ser oferecida uma imagem pouco ajustada ao respeito pelo local:
 
 
Diga-se que a Heliodoro Salgado não se limita ao espaço pedonal, existindo outra parte menos incómoda, destinada a circulação rodoviária. Nesta imagem ainda se vê uns abençoados carritos e a profundidade da rua.
 
Mas qualquer entidade, com autorização ou não dos autarcas passantes, teve a iniciativa de gratificar os peões com outra obra de arte, que ninguém contesta, a menos de 50 metros do Casino, orgulhosamente rebaptizado há dias:
 
 
Todos sabemos que não é zona histórica. O Carvalho da Pena chamava-lhe Lourel de Cima, mas caramba, será que na Câmara Municipal de Sintra ou na Junta de Freguesia de Santa Maria e S. Miguel não há sensibilidade para estas coisas?
 
A Heliodoro Salgado merece respeito, toda ela, mas onde os peões têm o seu próprios espaço é inacreditável...
 
 
 
 
 
 

domingo, 11 de novembro de 2012

CURIOSIDADES: MACACOS ATIRAM COCOS PARA OS OLHOS...

Os tempos mudam, os ditos ganham espaço cibernético. O velho dito "atirar areia para os olhos" todos os dias evolui sempre com mais dimensão.

Os pequenos grãos de areia aumentaram de tamanho. Cresceram. Já são cocos.

Há agora macacões, elegantes símios que, para chegarem à copa da vida, até nos atiram cocos para os olhos, tudo fazendo para imerecidas recompensas.

Nem todos exibem rabo despelado como este, mas todos fazem parte da espécie que trepa sobre todos os obstáculos para chegar ao alto dos coqueiros.

Nos últimos tempos, com espantosa frequência, vários cocos têm procurado ocluir as mais frágeis visões, mas sendo virose fraca qualquer bom oftalmologista resolve.


Marang, MY

Este trabalha na Malaysia, mas a agitação macacal para subir e mostrar coco feito, pode encontrar-se um pouco por todo o lado.

Moral da história: - "Macaco que gosta de trepar, coco aos olhos vai atirar".

Curiosidade a ter em conta...




sábado, 10 de novembro de 2012

REVISITAR LISBOA...PERCURSOS ANTIGOS (III) - A TRINDADE

ENTRE SINTRA E O ROSSIO...
 
Para Lisboa só utilizo combóio. Na carruagem, observo o que se passa, sem descurar o exterior, enquanto aumenta o apetite pelos pastéis de bacalhau da Casa Chineza. 
 
Na passada semana, uma jovem entrou na Portela, sentou-se à minha frente, logo pegou no smartphone e ligou: "Olá, já fui ao centro de emprego, disseram-me...blá...blá...blá...(...), agora tenho de desligar...estou a entrar no túnel. Um beijinho".
 
Fico invejoso por não ter um plano tarifário barato, igual ao que - pelo que deduzo - a minha desempregada companheira desfruta.

Desde que Passos Coelho me transformou de "reformado" em "pagador da crise", gasto menos de 5 (cinco) euros por mês em telemóvel. 

Para não escutar, fixei-me nas monumentais estações do Cacém e Barcarena, mais ajustadas aos Emiratos que vendem petróleo ao mundo. Não a um país com a corda ao pescoço. Era preciso aquilo para serem funcionais? Quem vai pagar?

DA RUA ÁUREA À TRINDADE, SUBINDO O CHIADO

Desço a Rua Áurea recordando os moços de fretes que paravam nas esquinas da Baixa. Homens possantes que - com cordas pendentes dos ombros - esperavam que alguém os chamasse para transportarem os mais diversos e pesados objectos.

Viro para a Rua da Assunção e, no canto da Rua do Crucifixo, o incêndio do Chiado ajudou ao desaparecimento da grande pedra gravada que localizava a Vacaria Áurea. Perto, temos o painel de azulejos do Sabonete Santa Iria, talvez difícil de retirar...

 
No cantinho, já não posso utilizar o belíssimo elevador que havia no Grandella. Opto por fazer a penosa subida do Chiado, sem o Leonel, o Martins e Costa, a Casa José Alexandre ou o Eduardo Martins. A Leitaria Garrett e a Pastelaria Marques sem vidas.
 
Passo a Brasileira, a estátua do poeta que ainda não foi roubada para ser fundida, e subo a Rua Nova da Trindade, de que tantas recordações guardo.
 
No velho Theatro do Gymnásio fui actor pela primeira e única vez em 1950, na festa dos alunos do Manuel Bernardes. Lá continua, imponente, carregado de história:
 
 
Um pouco mais acima, devidamente recuperado, o belo Teatro da Trindade:
 
 

Mas, no meio de tanta alegria, o final do percurso reservava-me a profunda tristeza de não poder voltar a sentar-me nas mesas do velho Restaurante da Trindade, de que guardo tantas recordações. Fechou as portas em Janeiro. "Foi a crise", disseram-me.
 
 
Fiquei desolado, fez parte da minha vida, lá me encontrava com colegas, amigos, contavamos das nossas vidas e partíamos para mais uma tarde de trabalho. 
 
Hoje, a crise serve para justificar tudo. Será mesmo assim? Não estaremos a exagerar na invocação da crise para justificar a destruição colectiva do nosso passado?
 
Acho que sim. Não podemos aceitar esta sociedade de fechar portas.
 
Porque depois das portas fechadas, também se fecharão os corações.
 
Desta vez, nem o Restaurante da Trindade escapou...
 

   
 

 

 
 
 

terça-feira, 6 de novembro de 2012

A MINHA ALDEIA...TÃO BELA!

Há uns bons anos decidi refazer a minha aldeia.
 
Aos poucos, voltou a vida, recordei pessoas, a maior parte delas apenas ressuscitando-as, porque estarão sempre na minha lembrança.
 
Faltam duas casas da minha aldeia, oferecidas em tempos a amigas que sempre estimei. Estão, certamente, bem guardadas. A aldeia era quase assim:

Como era a minha aldeia

Ao princípio, havia a igreja e sete casas à volta, mais o pequeno moinho.
 
Depois surgiram outras casas, maiores, mais famílias, mas o espírito da aldeia manteve-se. Cresceu e apareceram crianças, novas vidas. Hoje poucas restam.
 
Na igreja, ao centro da aldeia, o padre Albertino aconselhava jovens, escutava idosos, organizava festas, até jogava à bola connosco. Foi o meu padrinho na Comunhão Solene. De mim e mais oito que não conseguiram outro padrinho...disponível.
 
O dia da Comunhão marcou-me porque, pela primeira vez, tive calças compridas, feitas só para mim, "à golf". Que coisa fina, devidamente composto com camisa, gravata e casaco. Foi o início de outra era...
 
 
Na escola, ao lado da igreja, as arcadas abrigavam-nos da chuva forte que batia nas pernas, tapadas só até o joelho por calções herdados das calças velhas do pai.
 
Era o "bom dia ou até amanhã senhora professora", a Cartilha Maternal, trabalhos para casa. O ponteiro e a menina dos cinco olhos eram complementos educacionais...
 
Nas carteiras de madeira espetávamos falhas nas mãos. Havia tinteiros. Ardósia e pena de leite. Canetas com aparo. O nosso bafo aquecia as mãos. Aprendíamos...
 
A casa mais à direita era a da Avó Céu, que nos acompanhou para Sintra e cá faleceu aos 96 anos. À sua frente, junta da ribeira, a casa do Ti Zé da Pipa, artesão de barro.
 
O Ti Zé da Pipa, com boas vinhas viradas a Sul, todos os anos oferecia uma pipa aos amigos. Foi contador de histórias até que, enviuvando, se deixou vencer pela tristeza.
 
Ao alto, à esquerda, a casa senhorial do feitor Piçarra. Mais as casas do Florival que era guarda-florestal, da Gertrudes Passarinho, da Maria da Cruz e do Fitas.
 
O forno comunitário era o centro de convívio enquanto o pão das famílias cozia. Falava-se alto dos problemas locais e à boca pequena dos bandidos que estavam em Lisboa.
 
O Chico Moleiro, no engenho pequeno, usava o trigo rijo que se cultivava à volta da aldeia. Depois, para fornecer farinha a outras aldeias, construiu o moinho grande para moagem do trigo mole. Hoje, a ASAE não autorizaria a venda dessa farinha...
 
A nossa era a casa mais pequena da aldeia, ao lado do moinho pequeno do Chico Moleiro. Para nós, era a melhor, porque era a nossa. Lá criávamos perus, galinhas, coelhos, ovelhas e uma ou outra cabra. Chegámos a ter uma vaca.
 
Cozinhava-se com madeira ou carvão. No tempo da guerra faziam-se briquetes, uma mistura de carvão moído e barro. O fogareiro a petróleo viria a ser uma revolução.
 
Agarrado ao PC que todos os dias - teimosamente - só abre se me reconhecer o rosto, esquecia de dizer que na nossa casa não havia luz eléctrica. Com o candeeiro a petróleo se estudava, se comia, se acordava. Era só subir ou baixar a torcida...
 
Que saudades da minha aldeia, feita de sonhos, lembranças e realidades.
 
 
 





domingo, 4 de novembro de 2012

SINTRA: PEDONAL DA HELIODORO SALGADO...

Carros, aqui , NÃO!


Esta é a única rua de Sintra onde os peões podem circular livremente, as esplanadas alongarem-se. Onde exposições de arte divulgariam artistas; bandas anónimas poderiam tocar tornando-se conhecidas. Até projecções de vídeos...

Aproxima-se o Natal e as duas autoridades locais, deveriam promover a instalação de bancas ou quiosques para vendas natalícias, um licor aqui ou acolá, um café para aquecer as almas dos passeantes...mesmo uma quermesse para apoios sociais.

Se nada é feito - por iniciativa de residentes, freguesia ou câmara municipal - para que se desenvolva a ocupação dos espaços e acções culturais de rua, sabe-se lá se é uma estratégia para se colocar em causa o usufruto popular. 

A foto de 2004 mostra peões que passam, que conversam, pessoas que convivem na mesa de uma esplanada. Sem fumos, sem escapes, sem barulhos de motores.

Agora, em que se fala de novo no Casino de Sintra (mesmo que não seja casino, ao que se julga), que espaço mais esplêndido para se aceder em liberdade e convívio aos eventos que lá se realizem.

Só falta a linha e o eléctrico a passar, para o local ser mais nobre.

Esta a qualidade que as pessoas ambicionam em Sintra.




sexta-feira, 2 de novembro de 2012

REVISITAR LISBOA...PERCURSOS ANTIGOS (II)

ESCADINHAS DO DUQUE, UMA INTERNET DE PERNAS...

Já falarei sobre este subtítulo, mas antes umas histórias do comboio.


Havia classes nos comboios: 1ª. com compartimentos e assentos almofadados e 2ª. sem compartimentos mas almofadada, ocupadas por gente mais fina; depois a 3ª. classe, com bancos de madeira, usada pela grande maioria dos utentes, gente de trabalho. Os barcos da CP para o Barreiro tinha as mesmas classes.

No Rossio, certo dia uma locomotiva não conseguiu a pressão necessária para os freios, destruiu o batente final e só parou no meio do átrio da Estação, para espanto dos utentes e alimentando os jornais com notícias fresquinhas.

Os comboios de Sintra e Azambuja eram "tranvias", nome que nunca soube bem  o que queria dizer. Os "tranvias" tinham locomotivas mais pequenas, enquanto que os "Rápidos" eram puxados por máquinas enormes com palas laterais.  

Hoje – no sentido Campolide/Rossio – antes de entrar no túnel e à direita, ainda se vê (em mau estado)  uma grande roda. Servia para rodar as máquinas para debaixo do telheiro e inverter a posição da locomotiva antes de ser atrelada à composição.  

Entrávamos na carruagem a correr,  não porque gostássemos dos assentos de madeira,  mas porque o jogo da sueca nos obrigava a quatro lugares juntos. 

A equipa de jogadores tinha um amigo, o Sr. Florindo,  homem cinquentão, linotipista numa das tipografias do Bairro Alto, do jornal República ou do Século. Os linotipista eram doutorados a escrever português. O Florindo era um livro aberto.

Chegado ao Rossio, lá ia o Florindo pelas Escadinhas acima, com a lancheira pela mão a caminho do trabalho. Naquela época, todos trazíamos o almoço de casa numa lancheira na qual,  quando havia sopa,  metade ficava entornada.  

VOLTANDO ÀS ESCADINHAS DO DUQUE (HOJE CALÇADA DO DUQUE)

Estátua do cauteleiro no Largo da Misericórdia



Quem hoje vê a estátua que homenageia os Cauteleiros, não imagina o papel fundamental que desempenharam na difusão dos bilhetes premiados na lotaria.

Eram eles que, assistindo aos sorteios na Santa Casa, logo corriam pelas Escadinhas abaixo levando os números da sorte - em primeira mão - às Casas de Lotaria, as quais espalhavam papéis coloridos à sua porta quando eram números seus.

Os Cauteleiros eram, na época, a forma mais rápida de comunicação...hoje temos internet e poucos avaliam os passos gigantescos que foram dados nas comunicações.

Cauteleiros,  figuras populares,  que nos desafiavam a sermos ricos, criavam esperanças gritando,  pelas esquinas: "Quem quer a grande?  Anda hoje a roda"...

Nunca me saiu nada...