terça-feira, 6 de novembro de 2012

A MINHA ALDEIA...TÃO BELA!

Há uns bons anos decidi refazer a minha aldeia.
 
Aos poucos, voltou a vida, recordei pessoas, a maior parte delas apenas ressuscitando-as, porque estarão sempre na minha lembrança.
 
Faltam duas casas da minha aldeia, oferecidas em tempos a amigas que sempre estimei. Estão, certamente, bem guardadas. A aldeia era quase assim:

Como era a minha aldeia

Ao princípio, havia a igreja e sete casas à volta, mais o pequeno moinho.
 
Depois surgiram outras casas, maiores, mais famílias, mas o espírito da aldeia manteve-se. Cresceu e apareceram crianças, novas vidas. Hoje poucas restam.
 
Na igreja, ao centro da aldeia, o padre Albertino aconselhava jovens, escutava idosos, organizava festas, até jogava à bola connosco. Foi o meu padrinho na Comunhão Solene. De mim e mais oito que não conseguiram outro padrinho...disponível.
 
O dia da Comunhão marcou-me porque, pela primeira vez, tive calças compridas, feitas só para mim, "à golf". Que coisa fina, devidamente composto com camisa, gravata e casaco. Foi o início de outra era...
 
 
Na escola, ao lado da igreja, as arcadas abrigavam-nos da chuva forte que batia nas pernas, tapadas só até o joelho por calções herdados das calças velhas do pai.
 
Era o "bom dia ou até amanhã senhora professora", a Cartilha Maternal, trabalhos para casa. O ponteiro e a menina dos cinco olhos eram complementos educacionais...
 
Nas carteiras de madeira espetávamos falhas nas mãos. Havia tinteiros. Ardósia e pena de leite. Canetas com aparo. O nosso bafo aquecia as mãos. Aprendíamos...
 
A casa mais à direita era a da Avó Céu, que nos acompanhou para Sintra e cá faleceu aos 96 anos. À sua frente, junta da ribeira, a casa do Ti Zé da Pipa, artesão de barro.
 
O Ti Zé da Pipa, com boas vinhas viradas a Sul, todos os anos oferecia uma pipa aos amigos. Foi contador de histórias até que, enviuvando, se deixou vencer pela tristeza.
 
Ao alto, à esquerda, a casa senhorial do feitor Piçarra. Mais as casas do Florival que era guarda-florestal, da Gertrudes Passarinho, da Maria da Cruz e do Fitas.
 
O forno comunitário era o centro de convívio enquanto o pão das famílias cozia. Falava-se alto dos problemas locais e à boca pequena dos bandidos que estavam em Lisboa.
 
O Chico Moleiro, no engenho pequeno, usava o trigo rijo que se cultivava à volta da aldeia. Depois, para fornecer farinha a outras aldeias, construiu o moinho grande para moagem do trigo mole. Hoje, a ASAE não autorizaria a venda dessa farinha...
 
A nossa era a casa mais pequena da aldeia, ao lado do moinho pequeno do Chico Moleiro. Para nós, era a melhor, porque era a nossa. Lá criávamos perus, galinhas, coelhos, ovelhas e uma ou outra cabra. Chegámos a ter uma vaca.
 
Cozinhava-se com madeira ou carvão. No tempo da guerra faziam-se briquetes, uma mistura de carvão moído e barro. O fogareiro a petróleo viria a ser uma revolução.
 
Agarrado ao PC que todos os dias - teimosamente - só abre se me reconhecer o rosto, esquecia de dizer que na nossa casa não havia luz eléctrica. Com o candeeiro a petróleo se estudava, se comia, se acordava. Era só subir ou baixar a torcida...
 
Que saudades da minha aldeia, feita de sonhos, lembranças e realidades.
 
 
 





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