terça-feira, 24 de janeiro de 2012

SENHOR PRESIDENTE, CUIDE DE SI!

Escrevo-lhe quase despedaçado. Quando muitas almas estariam prontas para o peditório – com caixinha pendurada – que atenuaria as Suas baixas reformas, alguém apareceu a dizer que V. Exa. foi “subentendido”, talvez por lhe ler o pensamento.

Apesar disso, outros caridosos Chefes de Estado dos 27 e figuras régias, poderão organizar quermesses para auxílios pecuniários, alimentares ou outros.

Fiquei preocupado pela ênfase pública que deu à pensão da Caixa Geral de Aposentações sem se lembrar da outra, ou da última Declaração de Rendimentos.

Enquadro na via do esquecimento o que disse a propósito da eliminação de subsídios a funcionários públicos e pensionistas, que classificou como “violação de um princípio de equidade fiscal”. Rapidamente esquecido, logo aprovou o diploma violador.

Meditava nestas desarmonias, quando surgiu Sua Excelência a dizer-se, qual profeta, “Provedor das incertezas, das angústias mas também das ambições do nosso povo”.

De que povo falava? Do que ganhou com o BPN e nada devolveu à sociedade? Do dos paraísos fiscais ou que vive da economia paralela? Bem, para com os que trabalham e produzem riqueza não se notam angústias pelas penalizações sofridas.

Tantas contradições, de figurino patológico, ajustam-se mal a elevados cargos. A idade, por vezes, cansa-nos, pelo que é necessário cuidarmo-nos.

Cuide-se. Vá de “supresa” a um Centro da Saúde onde não o façam esperar dois meses. Encontrará um raro médico que não emigrou e, se não estiver isento de taxa moderadora, pagará qualquer coisa menos que num consultório particular. Se utilizar viatura particular até gastará menos do que em transportes públicos.

Justifico as minhas preocupações com a Sua saúde porque nascemos no mesmo ano e atravessámos as dificuldades da Segunda Grande Guerra. Eu, no Alentejo, com tenros quatro anos, só com uma senha de racionamento conseguia pão, enquanto a minha mãe ia para a bicha do carvão.

Recorde-se que, no Sul do País, se trabalhava de sol a sol. Milhares de desempregados do Norte, a que ofensivamente chamavam “ratinhos”, migravam para Sul onde eram escravizados. Todos sujeitos aos poderes discricionários dos patrões.

O actual governo, sem que V.Exa. o impeça, está a levar-nos para essa sociedade.

Descontei dos 14 aos 65 anos, para ter uma só pensão, aos poucos extorquida.

Teve melhor sorte e somou, talvez com horários sobrepostos, 30 anos de descontos pelo Banco de Portugal mais 40 como professor e, ainda, como investigador da Fundação Calouste Gulbenkian. Daí ter várias pensões.

As afirmações sobre os rendimentos que aufere, incluindo as omissões, ofendem a maior parte do “povo trabalhador” que tão raras vezes chama ao discurso.

Será que Sua Excelência está assim tão afastado da realidade do povo português?

Sou contra emissores de demagogias adormecentes, destinadas a milhares de pessoas que sofrem na pele as consequências da má gestão pública.

Preferia que, como mais alta figura do Estado, cuidasse de moralizar a vida pública, promovesse a efectiva equidade fiscal e a defesa dos postos de trabalho, incentivando políticas de desenvolvimento. Deveria, sim, Incentivar a auto-estima de quem trabalha.

A caridade não faz desenvolver os povos.

A maior parte do povo anónimo não nasceu em berços de ouro, pelo que não me levará a mal que lamente a vida de muitos e não a Sua.

É que, Sr. Presidente, não é de si que tenho pena.



5 comentários:

Anónimo disse...

O nosso presidente descaiu-se e disse o que pensava. Sentiu-se atingido pela lei que ele proprio criou. Ele ter tanto não é culpa dele. Tem porque a lei assim o quiz. O que o peneliza é o ar de sofrimento com que se queixa. É não ser amigo e solidario. É olhar primeiro para ele e depois para o resto do país. Parece impossivel que ele se lamente. De parabens está Manuel Alegre que foi delicado na apreciação. Com ele estas declarações jamaies seriam proferidas.
Mas foi o escolhido...

anonimo

Madalena Varela disse...

Deprimente este Sr. Silva...

quotydiano disse...

Assim se vê o fado de um povo. Desde a urna condenados a um pateta: não escolhemos o Alegre, sobrou-nos este (e, do cargo, demasiado longe da reforma.

Anónimo disse...

O Alegre de pateta não tem nada.
Vamos esperar para ver o que vem aí. O novo Lula espreita...
Anonimo

neves de carvalhoun disse...

como é possível alguém, que até é presidente da republica, vir à comunicação social fazer tais comentários, quando ao que se sabe, teve na sua vida activa e ao mesmo tempo três empregos, num país onde sempre houve tanto desemprego. Devia ter vergonha.