quinta-feira, 21 de abril de 2011

ABRIL, SERÁ SEMPRE ABRIL…

A mais de 10.000 quilómetros de distância, com difíceis acessos à Net, não descurei saber o que se passa em Sintra, com especial curiosidade no que concerne às (boas) acções com que a CM de Sintra comemoraria o 37º Aniversário do 25 de Abril.

No site da Câmara, essa magistral área informativa de serviço à medida e adequado ao poder majoritário absoluto que os sintrenses escolheram, até ao momento deste escrito nem uma palavra sobre comemorações oficiais ou, sequer, para nos alegrar.

Ajudem-me e, consultando todas as notícias desde o princípio do mês, incluindo as Deliberações de Câmara, vejam se lá encontram alguma referência.

Compreende-se que comemorar o 25 de Abril não seja muito agradável para certas hostes, mas ao nível oficial, nem que seja de circunstância, mobilizar os munícipes para um acto que - a ajuizar por empenhos anteriores - não chegaria a ocupar dez minutos, faria o coração bater mais alto, sem prejudicar qualquer obrigação externa ou umas retemperadoras férias .

Sem Abril, muitas figuras do nosso naipe político seriam nada, obrigando - porque de uma obrigação se trata - à gratidão por aquela madrugada que lhes possibilitou um futuro com que nunca sonharam.

Não desejaria que beijassem, solenemente, as pedras que muitos militares pisaram e lhes devolveram a liberdade de agora, a que quase voltam costas. Mas, de peito direito, alegres, deveriam estimular as Comemorações oficiais.

Como seria dignificante que o içar da bandeira nacional fosse obrigatoriamente feito pelos Presidentes de Câmara, nos seus municípios, com largos fronteiros cheios de crianças (que tantas vezes usam para eleitoralismos) representando todas as freguesias e transportadas nas mesmas viaturas que durante o ano servem para os mais diversos fins.

Desta política de “ocultação” do espírito de Abril quase todos estamos a pagar o preço injusto da involução da sociedade português, cada vez mais nas mãos da uma classe dominante.

O alheamento das camadas populacionais é reflexo de toda esta política de ostracismo à justiça social e à participação colectiva num futuro melhor.

Quando as Comemorações Oficiais em Sintra são presenciadas por menos de 20 pessoas, não há palavras para classificar os políticos responsáveis.

EM 2008, num artigo no Jornal de Sintra (abaixo transcrito), denunciei as Comemorações.

Em 2009, de viva voz, disse a um político presente que “era uma vergonha”.

Em 2010 já não tive coragem de assistir.

Veremos como vai ser em 2011.

Contra tudo, Abril continuará no pensamento de quantos ansiaram pela sua chegada.

Fernando Castelo

Segue artigo publicado em 2.5.2008 no Jornal de Sintra

"SINTRA: 5 minutos, 14 segundos e 66/100


Foi o tempo que durou a Cerimónia Comemorativa do 25 de Abril nos Paços do Concelho de Sintra. O que dizem ser o segundo maior concelho do País, fez jus a entrar para o livro do Guiness World Records.

O atraso verificado sobre a hora prevista para a Celebração, deu aquele toque sui generis de que Sintra tanto precisa, pelo exemplo de rigor com que estas coisas se devem fazer, permitindo que algum arrastado pudesse assistir ao solene momento. Mas, caramba, o esforço foi grande e na medida adequada aos celebrantes da histórica data que alterou o panorama político e social do País.

Habituados ao arrastar de processos, ao adiamento de soluções, aos meses e por vezes anos de espera pela resposta a uma qualquer reclamação, aos banho-maria com que frequentemente nos confrontamos, só alguém de má formação intelectual ou cívica poderá criticar a forma rápida como o 25 de Abril foi despachado.

Merece, até, que se inventarie como a Festa decorreu: A banda chegou às 10 horas e 6 minutos, fez mais uma intervenção a que se seguiu o Hino Nacional com simultâneo içar de bandeiras nos mastros do edifício. Depois, palmas dos poucos cidadãos presentes, cumprimentos ao maestro e lá foi a Banda de abalada. Tudo isto em 5 minutos, 14 segundos e 66 centésimas do segundo. Sem qualquer aumento de tempo!

Ficámos com uma das mais elevadas taxas de rentabilidade, mesmo de execução,  permitindo-me não classificar de quê.

Neste dia, meios que são usados para o transporte de futebolistas, não se justificaram para levar crianças a assistir às comemorações de uma data com que se deveriam habituar a viver e a honrar. E como seria bonito o Largo cheio de crianças em festa.

É assim a vida, com constrangimentos compreensíveis se admitirmos que, a ter-se mantido o anterior regime, quantos dos nossos políticos teriam agora uma brilhante carreira, talvez até em Ministérios.  

Na realidade, Abril foi tão magnânimo que a cada hora permite que se digam umas coisas e se façam outras. Por isso estamos tão pobres, quando nos prometem riqueza. Por causa disso, o 25 de Abril se foi transformando num dia que “dá sempre jeito” quando há pelo meio uma qualquer “ponte”, generosamente concedida.

As comemorações de Abril reflectem, antes de mais, a falência dos modelos de Cultura, tão referidos mas sem a devida implantação a partir dos primeiros bancos da escola.

Assistente de comemorações similares noutras partes do mundo, estes 5 minutos, 14 segundos e 66 centésimas de segundo, foram dos momentos mais dolorosos da minha vida, porque representam a ausência de verdadeiras intenções na realização Abril."

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